A única saída para o impasse da Península Coreana passa pelo diálogo

Durante os últimos tempos, o presidente Xi Jinping tem sido frequentemente abordado por via telefônica por Donald Trump, Angela Merkel e Emmanuel Macron. Todas estas conversas estão centradas num problema comum: a troca de pontos de vista face à situação verificada na Península Coreana.

Por Jia Xiudong*

Lançamento de mísseis balísticos em Hwasong, Coreia Popular, em março de 2017

Recentemente, o presidente chinês trocou também impressões sobre a situação com Vladimir Putin, durante a Cúpula dos BRICS, em Xiamen, à margem de um novo teste nuclear levado a cabo pela Rública Popular Democrática da Coreia (RPDC).

Agitando novamente a ordem internacional, Pyongyang, com o mais recente episódio da realização de testes nucleares, veio atrair ainda mais a atenção dos líderes internacionais para o problema. Todos eles concordaram em reforçar a comunicação e a união de esforços, de modo a que, tão cedo quanto possível, seja possível orquestrar uma solução para a questão nuclear da Península Coreana.

Perante a interatividade solicitada, a China defende a adesão a três princípios, os quais apelidou de “três persistências”: persistir na meta de desnuclearização da Península Coreana; persistir na estabilidade do nordeste da Ásia; persistir na resolução da crise na Península Coreana apenas através da via pacífica e do diálogo.

Tendo em consideração as declarações dos vários líderes mundiais, os objetivos de efetivação da estabilidade e da paz na Península Coreana são consensuais. Os métodos para alcançar tais fins, todavia, diferem ligeiramente entre si.

Métodos diferentes, meta comum

A grave violação da RPDC às resoluções alcançadas pelo Conselho de Segurança da ONU, o ataque direto ao sistema internacional de não proliferação de armamentos nucleares e a instigação à instabilidade no nordeste asiático foram amplamente condenados internacionalmente, contribuindo para novas sanções e para o isolamento do país.

À medida que a situação se prolonga, a comunidade internacional deve compreender que a aplicação de sanções, pressão e isolamento não produz quaisquer resultados tangíveis para a eliminação do problema.

Concomitantemente, a posse de armamentos nucleares, do ponto de vista da RPDC, não resultará no incremento ou sequer em qualquer garantia de segurança.

A situação da Península Coreana traduz-se num ciclo vicioso que apenas contribui para a escalada de tensões e para o comprometimento da segurança — em especial entre o trinômio EUA-RPDC-Coreia do Sul. O corolário de um cenário de guerra, que nenhuma das partes deseja testemunhar, poderá tornar-se real.

O diálogo coletivo que outrora tivera lugar foi marcado por divergências e discrepâncias, sendo que o reatar das conversações se afigura como uma tarefa hercúlea. Se for tido em conta que o velho pressuposto de uma RPDC sem armas nucleares se dissipou, os entraves certamente avolumar-se-ão. O objetivo final de desnuclearização é agora colocado em contraponto com uma (agora remota) manutenção do status quo de não proliferação de armamentos nucleares no país. Em suma, a situação é completamente nova.

O cerne do problema da Península Coreana converge em torno da segurança. O ponto nevrálgico da situação reside na desconfiança mútua de longa data entre os EUA e a RPDC. Ambas as partes apresentam razões válidas para assumirem preocupações pela sua integridade. A maior dificuldade é, portanto, encontrar um modo de dirimir esses receios em ambos os países.

A China propôs a cessação simultânea dos testes nucleares da RPDC, juntamente com os exercícios militares conjuntos de grande escala entre os EUA e a Coreia do Sul. Este mecanismo de “mobilização a duas vias” poderá ser o ponto de partida para atingir uma Península Coreana livre de armamentos nucleares, debelando de forma estratégica o imbróglio que alimenta os receios de segurança de todas as partes.

Esta opção certamente não deixará ambas as partes da Península Coreana plenamente satisfeitas, mas terá efeitos válidos para desfazer um nó de longa data.

O raciocínio acima apresentado tem vindo progressivamente a obter reconhecimento e aprovação internacionais.

O New York Times apelou já em editorial ao Presidente Donald Trump para considerar a implementação da proposta da “mobilização a duas vias” antes que, quer intencionalmente ou por lapso, seja deflagrada uma guerra.

O caminho do diálogo será, seguramente, frustrante, espinhoso e prolongado. Haverá, porém, uma outra opção mais realista?

Perante a atual conjuntura extremamente delicada vigente na Península Coreana, a responsabilidade e a transigência são exigidas a todas as partes.

Jia Xiudong é colunista do Diário do Povo e pesquisador do Instituto de Estudos Internacionais da China.