Réu mostra fragilidade de acusação baseada em espionagem no caso Balta

Jovens detidos são acusados de organização criminosa; Felipe, no entanto, realizava uma pesquisa para seu TCC.

Por Marianna Rosalles*

Militar infiltrado e jovens detidos - El País

Um grupo de jovens que se concentrava no Centro Cultural São Paulo foi detido em 4 setembro de 2016. Eles participariam de um ato contra o impeachment da então presidenta Dilma Rousseff. A prisão ocorreu com base na denúncia de William Pina Botelho, conhecido como Balta, um agente infiltrado do Exército.

Na época, o Ministério Público acusou o grupo de 18 pessoas de ser uma organização criminosa e de praticar corrupção de menores. A denúncia foi aceita, nesta semana, pela juíza Cecília Pinheiro da Fonseca e o julgamento deverá ocorrer no dia 22 de setembro. Caso sejam condenados, eles podem pegar pena de mais de três anos de reclusão.

O jornalista Felipe Paciullo foi um dos jovens presos neste dia. Ele conta que sequer estava se dirigindo ao ato político e que, na época, estava fazendo a pesquisa de seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC): "Dentro do centro cultural tem a discoteca Oneyda [Alvarenga] e uma biblioteca anexa a ela. O meu TCC foi um livro-reportagem sobre sobre discos de vinil, então lá era o lugar em que eu teria acesso a todos os livros e a um acervo muito grande para fazer as minhas pesquisas".

Paciullo afirma ainda que não conhecia ninguém do grupo e que a abordagem policial foi repentina e arbitrária. Ele estava voltando do intervalo do almoço quando foi interrompido pelos oficiais que, de acordo com seu relato, pediram para que todos os presentes encostassem na grade "para tomar um enquadro", como é conhecida popularmente a revista policial.

Diversas entidades e movimentos populares têm ressaltado a fragilidade da denúncia realizada com base na espionagem de Balta, que usou o aplicativo Tinder e outras redes sociais para se infiltrar entre militantes de esquerda. Apesar de também ter sido preso na época, como parte do disfarce, Balta foi imediatamente liberado e, em maio deste ano, foi promovido a major do Exército.

A acusação do promotor Fernando Albuquerque Soares de Souza contra o grupo, alega, entre outras coisas, que os jovens portavam por exemplo, skate, máscaras, capuzes, roupas escuras e vinagre, e que tais utensílios poderiam ser utilizados para depredar o patrimônio público e privado, bem como ferir policiais.