Datafolha confirma polarização social do voto

Por Bernardo Joffily

Os dados da pesquisa Datafolha desta quarta-feira (24), segmentados por faixas de renda, confirmam a indicação da sondagem CNT-Sensus: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva &ea

Os gráficos ao lado mostram a distribuição de votos em cada uma das pesquisas, agrupadas por faixa de renda. Ambas registram o mesmo padrão: Lula perde entre os mais endinheirados; mas dá o troco, com folga, nas camadas de baixa renda. Na faixa que ganha menos de dois salários, segundo o Datafolha, Lula tem uma vantagem 33 pontos percentuais sobre Alckmin: vence por 49% a 16%.
Polarização cristalizou-se na crise
Tanto o Datafolha como o Sensus mostram também, em linhas gerais, o mesmo comportamento para os candidatos que aparecem em terceiro e quarto lugar (escolhemos os cenários que mais se aproximam, embora o ex-governador Anthony Garotinho acabe de desistir de sua pré-candidatura presidencial pelo PMDB). O eleitorado de Garotinho é socialmente próximo do de Lula, mais numeroso nas camadas de renda menor. Já a senadora Heloísa Helena (AL), presidenciável do Psol, a despeito do seu discurso conquista eleitores dentro do mesmo padrão de Alckmin: quanto mais ricos, mais votos.
Esta polarização social não é nova. Cristalizou-se desde a crise política do ano passado, quando Lula viveu a sua fase de vacas magras nas pesquisas. E se consolida agora, que o presidente dá a volta por cima. Os números finais variaram, como variou o nome do candidato conservador (primeiro José Serra, depois Alckmin); manteve-se e aprofundou-se, porém, a diferenciação entre o voto rico e o voto pobre.
É isto que explica o comportamento dos eleitores quando segmentados por outros critérios que não o da renda. Lula tem maior votação na Região Nordeste, seguida pela Centro-Oeste, entre os eleitores de menor escolaridade, entre os das áreas rurais, enquanto Alckmin é o seu espelho invertido. Qual a lógica dessa diferenciação? Lula com o voto pobre, Alckmin com o rico.
A marca de classe
Eis o que tortura hoje os marqueteiros do bloco conservador oposicionista-midiático, pois a manutenção dessa tendência aponta para a reeleição de Lula. É por isto também que o comando da campanha Alckmin reluta em aceitar os conselhos dos que, como o prefeito pefelista do Rio, Cesar Maia, pregam uma linha-dura de ataque direto ao presidente para “desconstruir” sua imagem.
Ocorre que a imagem de Lula traz uma forte marca de classe, que o presidente construiu com sua biografia e nunca esquece de ressaltar a cada discurso. Uma radicalização anti-Lula poderia ser interpretada pelas camadas populares como revanchismo da “burguesia má e perversa” de que falou o governador Cláudio Lembo. E aí, não haverá marqueteiro que salve a candidatura Alckmin: o eleitorado com renda acima de dez salários mínimos equivale a 4,7% do total, segundo a ponderação do Datafolha, ou 2,7%, conforme o Sensus.
As duas pesquisas seguem critérios diferenciados. A do Datafolha, embora com menor margem de erro (2 pontos), tem a desvangatem de apresentar menos faixas de renda; em especial, não diferencia nenhuma camada acima dos dez salários mínimos – o que termina colocando em um mesmo balaio a minoria rica e a parcela superior das camadas médias. O instituto Sensus, embora só diferencie uma camada a mais (acima de 20 mínimos), ajuda a jogar luz sobre as tendências político-eleitorais das elites.
Veja também “Lula tem o voto dos pobres, Alckmin vence entre os ricos”.
http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=2749
Para ver o relatório CNT-Sensus, clique aqui: http://www.cnt.org.br/
Para ver o relatório Datafolha, clique aqui http://datafolha.folha.uol.com.br/po/intvoto_pres_25052006.shtml