Uma grande vitória do povo angolano

As eleições angolanas, afirmaram a soberania e foram uma demonstração inequívoca de maturidade democrática de um povo que soube conquistar a paz, que luta pelo desenvolvimento, e que assume o direito a decidir o seu destino sem ingerências nem paternalismos.
 
Por António Filipe

luanda

A forma como decorreram as eleições presidenciais e legislativas em Angola na ultima quarta-feira (23), bem como todo o ambiente que rodeou este processo eleitoral na Angola, abissalmente diferente do que é propagado por alguns meios políticos e midiáticos em Lisboa, foi uma inequívoca afirmação de soberania e de maturidade democrática do povo angolano.

 
O ambiente político em que decorreram estas eleições foi indiscutivelmente pacífico e plural. Nos últimos dias de campanha apenas uma intervenção mais incendiária da parte de um candidato da coligação CASA-CE com apelos ao vandalismo foi objeto de denúncia pública, mas foi uma exceção. De resto, todos os candidatos fizeram as suas críticas aos partidos adversários e apresentaram os seus compromissos eleitorais valorizando os valores da paz e da convivência pacífica entre todos os angolanos. Não houve notícia de atos de violência dignos de registo durante a campanha eleitoral. Aliás, era bem visível nas ruas de Luanda o colorido de uma intensa campanha eleitoral de todos os partidos e a presença de brigadas de contato com os eleitores por parte do MPLA e da CASA-CE.
 
A campanha eleitoral teve uma cobertura midiática plural por parte da comunicação social pública e privada, com as televisões a transmitir ao vivo intervenções dos comícios finais do MPLA, da UNITA e da CASA-CE, e apontamentos de reportagem dos restantes.
 
Os 240 observadores internacionais que estiveram no terreno no dia 23, vindos dos quatro cantos do mundo e pertencendo a famílias políticas diversas, foram unânimes, tanto quanto chegou ao meu conhecimento, em elogiar a organização do processo eleitoral.
 
Milhares de cidadãos, majoritariamente jovens, asseguraram eficazmente as operações, incluindo o apoio informativo aos eleitores quanto ao local de votação, e todas as mesas de voto contavam com a presença de delegados dos partidos concorrentes, que puderam fiscalizar todas as fases do processo, incluindo obviamente a contagem dos votos e a elaboração das respectivas atas.
 
Houve problemas. Algumas mesas de voto não puderam abrir devido ao mau tempo, prejudicando cerca de 1200 eleitores, que poderão votar na próxima semana. A CNE foi criticada pela demora no anúncio dos primeiros resultados, suscetível a aumentar as ansiedades e de suscitar especulações. Alguns aspectos podem melhorar, mas não é possível duvidar da democracia do processo eleitoral angolano.
 
A eleição foi exemplar pela mensagem de esperança e de pacificação que marcou o debate eleitoral e pela convivência pacífica, quando não cordial, entre os delegados das candidaturas, o que não é coisa pouca num país marcado por uma longa guerra civil. Exemplo pela unanimidade dos observadores quanto ao seu carácter livre, justo e transparente. Exemplao por uma taxa de participação superior a 75% (quem nos dera a nós) e que aumentou significativamente relativamente a 2012.
 
Como se sabe, o Movimento pela Libertação de Angola (MPLA) venceu as eleições com uma expressiva maioria. A contestação de alguns opositores à divulgação dos resultados não passou de um “dever de ofício” sem fundamentos válidos nem convicção.
 
O povo angolano não ignora os problemas que afetam o seu país nem os fenômenos negativos que se manifestam na sociedade. Questões como o combate à corrupção e à pobreza não estão ausentes dos espíritos, das conversas e dos debates entre os angolanos. Mas, como a realidade nunca é obvia, os angolanos não ignoram quem fez a guerra e quem conquistou a paz, nem desvalorizam as transformações positivas que o país conheceu nos últimos anos e que só quem não conhece Angola pode desconhecer.
 
A maior participação eleitoral verificada nestas eleições faz com que não as possamos considerar como de mera continuidade. Muitos jovens votaram pela primeira vez. O voto de confiança dado ao MPLA é um voto de confiança numa nova liderança e na renovação de um projeto de esperança e de desenvolvimento para Angola.
 
Goste ou não dos resultados, eles correspondem à escolha soberana dos angolanos. São eles que conhecem a realidade do seu país, são eles que conhecem os partidos existentes na Angola, os seus candidatos, os seus programas e o que podem esperar de cada um deles.
 
As eleições angolanas, além de uma clara afirmação de soberania, foram uma demonstração inequívoca de maturidade democrática de um povo que soube conquistar a paz, que luta pelo desenvolvimento, e que assume o direito a decidir o seu destino sem ingerências nem paternalismos.