Professor da UFBA fala sobre as heranças da escravidão no Brasil

O professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) João José Reis é um dos mais importantes historiadores do Brasil, considerado uma referência mundial para o estudo da história e da escravidão no século XIX. Numa entrevista para a TV UFBA, o professor e autor do livro “Rebelião Escrava no Brasil” fala sobre a abolição, o racismo e as heranças da escravidão no Brasil, além de contextualizar a situação na Bahia diante desse cenário.

Por Alessandra Monterastelli *

Joao Jose Reis - Foto: Reproducaoo TV UFBA

Na entrevista, concedida em 2015, o professor universitário afirma que a Lei Áurea, que decretou o fim da escravidão no Brasil, é um texto curto, de um parágrafo, sem indenizações ou preocupação com a população de negros ex-escravos. “Não houve nenhum empenho do governo em indenizar ou desenvolver políticas públicas de proteção e incentivo para que houvesse igualdade no mercado de trabalho ou no sistema educativo, entre outros aspectos socioeconômicos”.

Para José Reis, não deveria ser necessário relembrar a escravidão para que o governo e a sociedade tomem uma atitude diferente com relação a população negra. “O racismo existe e está aí, está nas estatísticas da educação, da distribuição de renda, de salário, de acesso a saúde, enfim, em todos os índices de desenvolvimento humano os negros estão aquém dos brancos”.

O professor ainda lembra que não eram apenas os senhores de engenho que possuíam escravos, já que a escravidão estava amplamente disseminada na sociedade. “A Bahia foi o segundo porto a receber mais escravos em toda a história do tráfico nas Américas. No século 19, 63% da população escravizada em salvador era de origem africana. Esses mesmos escravos foram responsáveis por um grande ciclo de revoltas”.

Por fim, o autor reitera que não se deve deixar de lembrar da escravidão, devido a importância da política de memória. “As pessoas, de qualquer grupo social, investem na memória, querem saber de seu passado e traçam uma trajetória do seu grupo a partir desse ponto lá atrás. No caso da população negra brasileira não é nem o Brasil, mas a própria África. Daí a importância de se conhecer esse continente” completa, referindo-se a inclusão do estudo da história e cultura africanas nos currículos escolares e universitários.

O professor João José Reis será um dos participantes do 2º Encontro Nacional de Combate ao Racismo, promovido pelo PCdoB, e debaterá o tema A Luta Estratégica contra o Racismo no Brasil e a Defesa da Democracia.

Assista a íntegra da entrevista: