PL para reduzir violência policial está parado na Câmara há cinco anos

Os chamados autos de resistência, nome dado às ações de agentes policiais do Estado que resultam em mortes ou lesões corporais de cidadãos, é objeto do Projeto de Lei (PL) 4.471, que estabelece regras rigorosas e a instalação de inquéritos para a apuração dos casos que levam à mortes e danos físicos decorrentes de atos violentos cometidos por policiais, mas há cinco anos a matéria aguarda para ser votada pela Câmara dos Deputados.

Protesto contra violência da polícia militar - Fernando Frazão/Agência Brasil

A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara (CDHM), realizou audiência pública sobre o tema esta semana e pretende se debruçar sobre a questão, com vistas a acelerar a tramitação do PL.

De acordo com o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), autor do PL 4.471 e um dos autores do requerimento que pediu a audiência, estudos diversos demonstram que 60% dos autos de resistência registrados foram, na verdade, execuções, uma vez que não se comprova a resistência à ação policial por parte das vítimas –, os números apontam que as ocorrências desse tipo seguem em alta expressiva desde 2013. Tais execuções são tratadas, pela PM e por setores da mídia, como "resistência seguida de morte"

"O que estamos pedindo é que isso seja investigado, que toda atividade policial que leve à morte de um cidadão, passe a ser investigada", disse Teixeira.

"Qualquer um de nós"

As palavras do parlamentar foram repartidas com os parentes de vítimas de violência policial que foram à comissão para dar seus depoimentos. "Estou aqui para pedir a aprovação desse projeto e falar da morte do meu filho. A bala que pegou no meu filho pode atingir qualquer um de nós. O auto de resistência é uma carta branca para que a polícia possa matar e, infelizmente, o que acontece hoje no Rio de Janeiro é explorado de forma mais forte no Rio, mas também sabemos de casos sérios em Salvador e Natal", protestou Vera Lúcia da Silva.

"O país inteiro sofre com este absurdo. Os jovens não têm oportunidade e cometem delitos. Infelizmente, ao invés de serem recuperados, terminam mortos sem poderem se defender", acrescentou Maria Lúcia.

"Quando observamos as ações que envolvem o emprego de força letal policial, designados genericamente como ‘resistência seguida de morte’ ou ‘autos de resistência’, a conclusão a que chegamos é de que vários casos não são submetidos à investigação no sistema de Justiça, que deixa de avaliar a possível ocorrência de crime doloso e silenciando episódios de violação de direitos humanos praticados por agentes do Estado, principalmente contra jovens negros", disse Teixeira.

O Código de Processo Penal (Decreto-Lei 3.689/41) autoriza o uso de quaisquer meios necessários para que o policial vença a eventual resistência à prisão, além de determinar que a ação seja registrada em auto assinado por duas testemunhas. O problema, segundo o deputado, é a constatação do uso desproporcional da força e da violência apontado pelos estudos apresentados durante a audiência.

Fiscalização da segurança

O requerimento que levou à audiência na CDHM, também assinado pelos deputados Paulo Pimenta (PT-RS) e Alessandro Molon (Rede-RJ), destaca que a comissão pretende debater cada vez mais a ampliação do controle e da fiscalização sobre a atividade de segurança pública, de maneira eficiente e independente.

Segundo os deputados, o objetivo é contribuir para a redução de excessos e garantir a responsabilização pelos atos que não estejam condizentes com as conquistas do Estado democrático de direito e com os anseios da população pela redução da violência estatal e da letalidade de suas ações.

Molon explicou que o PL está pronto para ser votado, mas tem sido alvo de constantes estratégias para seu engavetamento. Na audiência, participantes lembraram palavras do educador Douglas Belchior, militante do movimento negro, para quem o texto em tramitação na Câmara tem o objetivo de "contrapor e contestar essa naturalização da violência da polícia e do Estado, principalmente aquela dirigida à população negra e à juventude". As práticas foram chamadas de resquícios de escravidão e de ditaduras.