As personagens de animações da minha infância eram queer

Elas mexeram com a minha cabeça.

Por Kari Paul

Traduzido por Marina Schnoor

Velma de scooby doo

Quando eu tinha oito anos e morava num subúrbio de Michigan, nos EUA, assisti Lindsay Lohan em Operação Cupido pular pelada num lago. Naquele momento, eu tive o que agora reconheço como um despertar sexual primordial. Quando a personagem dela, Annie, tem que nadar pelada depois de perder uma aposta, isso me escandalizou, despertando sentimentos queer que eu não conseguia entender na época. Não lembro o momento exato em que soube que não era hétero, mas lembro cada personagem da minha infância que me fez questionar isso.

Crescendo no final dos anos 90 e começo dos 2000, eu sabia que todas as personagens por quem eu tinha um crush na verdade eram gays — na ficção e na vida real. Na verdade, não lembro de nenhuma representação de mulher abertamente queer quando eu era criança, e só fui conhecer uma lésbica pessoalmente quando tinha 18 anos. Isso provavelmente contribuiu para muitas fanfics secretas que escrevi, além de vários anos desnecessários no armário.

A idade média na qual crianças percebem que são algo diferente de heterossexuais é de 12 anos, segundo o Pew Research Center, e a idade média para se assumir agora é de 16. Uma melhora considerável dos anos 80, quando a idade média para sair do armário era de 21 anos. Hoje, crianças têm mais chance de ver pessoas queer na televisão, com relacionamentos gays presentes em sitcoms mainstream como Modern Family e desenhos animados como Loud House da Nickelodeon.

Segundo um relatório de 2016-2017 do GLAAD, 4,8% dos personagens regulares de séries em exibição no horário nobre nos últimos anos se identificam como gay, lésbica, bissexual, trans e queer — a maior porcentagem da história. A aprovação da comunidade LGBTQ também está em ascensão: a porcentagem de pessoas que apoiam igualdade de casamento era de 30% em 2000, quando desenvolvi meu crush secreto pela Lindsay Lohan. Em 2017, é de 62.

Então sim, as coisas melhoram. Mas ainda assim, entre o Babadook se tornar um ícone queer na Parada Gay dos EUA este ano, e o primeiro "personagem gay" da Disney emergindo na forma do ajudante sexualmente confuso do Gaston em A Bela e a Fera, fica claro que ainda estamos desenvolvendo a representação queer na mídia. Aqui vão algumas personagens que eu tinha certeza que eram queer (na minha cabeça, pelo menos) assim que as assisti quando era menina.

Meu primeiro e mais longo crush da infância nasceu na primeira vez em que assisti Pocahontas da Disney. Meus sentimentos românticos pela Pocahontas não começaram quando a princesa nativa norte-americana beija John Smith, mas quando ela mergulha na cachoeira com sua amiga maravilhosa Nakoma. Na minha versão de fantasia do filme, elas despacham o John Smith de volta para a Europa e vivem felizes para sempre com sua conselheira lésbica sábia, a Vovó Willow.

Kim Possible e Shego, de Kim Possible

É impossível que Kim Possible e sua nêmesis Shego não estivessem secretamente se pegando. Em toda a série, a tensão sexual entre a combatente do crime adolescente e sua principal inimiga é palpável. Além disso, Shego ganhou seus poderes depois de ser atingida por um COMETA ARCO-ÍRIS. Preciso dizer mais alguma coisa?

Debbie Thornberry, de A Família Thornberry

Com aquela camisa de flanela, atitude apática e calça cargo, Debbie, da Família Thornberry, é a hipster queer original. Essa sapatão provavelmente seria vista no bar lésbico da vizinhança tomando cerveja artesanal e revirando os olhos pra "cena queer", mesmo participando dela.

Macie Lightfoot, de As Told By Ginger

O cabelo verde e óculos quadradão da Macie não mentem. Adulta, a Macie se matricularia em design gráfico na Pratt e vocês sempre dariam match no Tinder, mas nunca sairiam pra valer.

LaCienega Boulevardez, de A Família Radical

Sempre tive essa sensação de que a LaCienega não era exatamente hétero. Quando dei um Google pra saber se era a única recebendo vibes gays, topei com uma quantidade alarmante de fanfics e artes retratando o relacionamento de LaCienega e Penny Proud (que não vou linkar aqui porque elas têm 14 anos naquela séria – pelamor, né, gente). Mas vou dizer que meu coraçãozinho de 9 anos batia mais rápido sempre que ela aparecia na tela.

Spinelli, de A Hora do Recreio

A Spinelli adulta pegaria meu telefone num evento queer mas nunca ligaria.

Reggie Rocket, de Rocket Power

E por últimos, temos Reggie Rocket: uma skatista fodona que parece bizarramente com uma ex minha — provando que não mudei tanto assim desde que era criança.