Fitmetal: Brasil perdeu 544 mil empregos metalúrgicos em 4 anos

Depois de se recuperar sob a Era Lula (2003-2010) e praticamente dobrar em uma década, a categoria metalúrgica não para de encolher. Segundo Marcelino da Rocha, presidente da Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil (Fitmetal), o número de empregos no setor despenca desde 2013.

Marcelino da Rocha,, presidente da Fitmetal no 4º Congresso da CTB - André Cintra

“Apenas nos últimos quatro anos, nossa categoria perdeu 544 mil empregos formais. Vivemos uma espécie de montanha-russa”, denunciou Marcelino, nesta quinta-feira (24/8), no Seminário Internacional da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil).

Com a presença de 71 representações de 26 países, o encontro, realizado em Salvador (BA), foi aberto pela manhã com um debate sobre “A Crise Capitalista e os Impactos no Mundo do Trabalho”. Foi um “pontapé inicial” para o 4º Congresso da CTB, que se inicia à noite.

“A desindustrialização da nossa economia começou na década de 1980 – mas, agora, atinge índices alarmantes, de tão baixos”, declarou Marcelino, em sua fala ao plenário. De acordo com o dirigente, a participação da indústria de transformação no PIB nacional – que já foi de 21,6% em 1985 – pode cair para menos de 10% neste ano.

“A indústria é um dos setores mais prejudicados com a crise que atinge o Brasil – e o reflexo para a classe trabalhadora é imediato”, explicou o presidente da FITMETAL. “Cada emprego direto na indústria metalúrgica pode gerar mais dois ou três empregos indiretos. Por isso, o impacto vai além da nossa categoria.”

De 2002 a 2013, o emprego metalúrgico no País cresceu 80% – de 1,35 milhão de trabalhadores formais para 2,44 milhões. Nos dias de hoje, após quatro anos seguidos de mais demissões do que contratações no setor, o Brasil tem apenas 1,9 milhão de metalúrgicos com carteira assinada.

O exemplo da indústria naval

O “fator Lula” foi fundamental para a recuperação histórica do setor. “Além da política de valorização do salário mínimo, o governo criou um ambiente favorável nas negociações, que nos permitiu boas campanhas salariais, aumentos reais e ampliação de benefícios.” Outra marca foi a política de incentivos a segmentos industriais, como as montadoras e o setor naval. “Mesmo sem exigir contrapartidas, essa política fortaleceu a indústria e beneficiou a categoria”.

“A indústria é um dos setores mais prejudicados com a crise que atinge o Brasil", diz Marcelino. “Cada emprego direto na indústria metalúrgica pode gerar mais dois ou três empregos indiretos. Por isso, o impacto vai além da nossa categoria”
Já a crise da indústria nacional e do emprego metalúrgico, iniciada no governo Dilma, acentuou-se com o golpe que levou à instalação do governo ilegítimo de Michel Temer (PMDB). A mais longa recessão econômica do País já estava em curso. Com Temer, sobreveio uma política ultraliberal e anti-industrial. “É um cenário de abertura e desnacionalização da economia, privatizações e reestruturação produtiva”, afirma Marcelino.

Para ele, um dos símbolos da “montanha-russa” é a indústria naval. Com as políticas de incentivo, o Brasil chegou à marca de 40 estaleiros e gerou 82 mil empregos direitos. Porém, a crise já eliminou 50 mil postos de trabalho desde 2014. Doze estaleiros estão parados, e outros devem interromper as atividades em breve, por falta de novas encomendas. “O setor naval estava morto, falido, renasceu com o governo Lula, mas está de novo em colapso.”

Brasil Metalúrgico

O presidente da FITMETAL acrescenta que, no governo Temer, há uma escalada não só do desemprego – mas também da precarização do trabalho. “Medidas como a lei da terceirização irrestrita e a reforma trabalhista vão nesse sentido”, alerta Marcelino.

Em contrapartida, entidades metalúrgicas de todo o País, ligadas às mais diversas centrais e tendências sindicais, decidiram se aliar na campanha “Brasil Metalúrgico”. A FITMETAL e a CTB aderiram à iniciativa. “Em setembro, vamos promover um Dia Nacional de Lutas e uma Plenária Nacional dos Trabalhadores da Indústria”, relatou Marcelino.

“É a primeira vez que há uma união dos metalúrgicos dessa dimensão desde o governo FHC”, agrega o presidente da FITMETAL. “Para garantir o enfrentamento à crise, precisamos nos unir e resistir. É o caminho para garantirmos a defesa da indústria nacional, a retomada do crescimento, a geração de empregos e a construção de um projeto nacional de desenvolvimento.”