Miss Brasil 2017 sofre ataques racistas 

Monalysa Alcântara, terceira mulher negra a ganhar o concorso em 63 anos de disputa, sofre racismo nas redes sociais. Ela não é a única: apesar da maioria negra no país, diversos artistas e celebridades já sofreram discriminação racial

Por Alessandra Monterastelli* 

Miss Brasil

Na quarta-feira (23), ao participar do programa "Encontro com Fátima Bernardes" da Rede Golobo, a eleita Miss Brasil 2017 Monalysa Alcântara, jovem de 18 anos nascida no Piauí, sofreu diversos ataques racistas na web. 

Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) publicados em 2017, 54% da população brasileira é negra. Apesar disso, a presença do racismo (tanto o velado e institucional quanto o explicíto) ainda é forte. "Eu imaginava que isso ia acontecer. Sou bem preparada para isso e já aconteceu muito na minha vida", conta Monalysa ao se pronunciar sobre o ocorrido. 

"As pessoas sempre duvidavam de mim. Enfim, já estava acostumada com esses ataques. Mas quando entrei e virei Miss Brasil essa proporção foi bem maior, sabe?", contou para a apresentadora Fátima Bernardes. "A minha família viu isso. Claro que machuca! Você vê que existe um preconceito tão tolo ainda no Brasil". E reitera, confiante: "isso não me fere não, sinceramente. Sou muito alegre".

Jonathan Azevedo, interprete do personagem Sabiá, chefe do tráfico na novela "A Força do Querer" da Globo e também convidado no programa de quarta (23), contou que a sua internet "começou a bombar". Entre os ataques racistas, existiam aqueles que o acusavam de estar onde não merecia, isto é, em uma novela transmitida no horário nobre na maior emissora de televisão brasileira. "Uma coisa de falar 'ah se fosse eu não tirava selfie com ele porque tem tanta cara de bandido'", conta o ator. 

Jonathan e Monalysa não são os únicos casos recentes de celebridades que sofreram preconceito. Juliana Alves, também atriz da Globo, respondeu, "você não ofendeu só a mim. Você cometeu um crime! Racistas não passarão" ao ser chamada de "cabelo de vassoura" nas redes sociais. Preta Gil, também alvo de ataques racistas, lamentou as ofensas: "atacaram minha cor, meu trabalho, meu corpo, outros tentando fazer piadas de péssimo gosto apenas para tentar me denegrir ou magoar".

Em 2015, ao entrar no cargo de apresentadora da previsão do tempo no Jornal Nacional, a jornalista Maria Julia Coutinho foi vítima de diversos comentários racistas no Facebook. Ela foi a primeira negra a assumir a função. Em entrevista ao jornal Extra, na época, a jornalista bem sucedida declarou não se abalar. "Acho triste, mas sou muito consciente. Cresci numa família que militou no movimento negro. Não perco muito tempo com isso".