"Escola humilhou crianças ao marcá-las para não repetirem merenda"

Essa é a fala da diretora da faculdade de Educação da PUC-SP, Madalena Guasco Peixoto, sobre a escola municipal de São Paulo, que marcou aluno para não repetir merenda. Para ela, a instituição abriu mão do seu papel educativo para fazer a política da gestão Doria.

Por Verônica Lugarini*

Restrição de merenda - Norma Odara

Desde o início desse mês, a Escola Municipal de Ensino Fundamental João Amós Comenius, na Brasilândia, começou a marcar os seus alunos na mão, fazendo uma bolinha ou um risco, com um canetão para que as crianças não repitam a merenda.

Uma foto com a marca foi divulgada pela avó que um menino de 11 anos que chegou em casa com a marca na mão dizendo que, com ela, não podia mais repetir o lanche. “Ele não costuma comer na escola. Justo no dia que era um lanche que ele gostava, quis repetir e não pôde”.

O caso gerou polêmica nas redes sociais e nos veículos de imprensa por seu caráter absurdo e antipedagógico e a justificativa da Prefeitura de São Paulo para tal atitude, foi que a apenas as comidas com itens industrializados que não poderiam ser repetidos.
Para a professora Madalena Guasco, independentemente de haver a necessidade de uma alimentação mais saudável para os alunos, essa atitude é reflexo de inúmeros erros que vêm se somando.

A começar pela falta de políticas públicas municipais que priorizem a compra de alimentos naturais e que retirem, ou reduzam o número de itens industrializados.

“Se a prefeitura quer fazer essa reeducação alimentar, eles não podem marcar crianças para que elas não repitam comida, é preciso começar a pensar isso na hora da compra dos alimentos, cortando os itens industrializados. Dessa forma, não haveria esse absurdo que é proibir as crianças de comerem. Ou seja, a culpa é de quem compra a comida e não do aluno”, disse a professora em entrevista ao Portal Vermelho.

Madalena ainda informou que essa não preocupação da prefeitura com a merenda leva as escolas a terem essas ações despreparadas, que não tem lógica e, muito menos, caráter pedagógico para uma reeducação alimentar no dia a dia da criança.
“A escola e a gestão Doria precisam entender o motivo pelo qual o menino ou a menina repete a merenda, em sua grande maioria, as crianças ainda estão com fome, o que cria a necessidade de se comprar mais comida saudável para não haver essa proibição e para as crianças sanarem a fome”.

Em meio a esse debate, o jornal Agora informou nesta terça-feira (22) que a gestão do prefeito João Doria (PSDB) gastou R$ 66 milhões a menos com a merenda nas escolas municipais de São Paulo nos seis primeiros meses deste ano em comparação com o mesmo período de 2016 na gestão Fernando Haddad (PT). Uma diferença de 24,7%.

“A prefeitura está comprando produto industrializado para ficar mais barato e para resolver isso, a escola vai e marca o aluno, sendo que marcar uma criança é humilhá-la, humilhá-la por sanar uma necessidade básica que é a alimentação. No final, a escola fez isso, não resolveu a questão alimentar que precisava ser resolvida e ainda se vendeu a política da gestão Doria”, finalizou Madalena Guasco.

Manifestação

Nesta quarta-feira (23) professores, alunos e integrantes de movimentos sociais participaram de um ato contra as medidas de racionamento de merenda, adotadas pelo prefeito João Doria. 

O protesto aconteceu em frente à Prefeitura de São Paulo e teve questionamentos incisivos sobre as medidas da prefeitura. O argumento de uma das mães presentes no ato foi de que tem banquete para empresário, mas não tem merenda, de acordo com informações do Brasil de Fato.

Ainda segundo a reportagem, a prefeitura marcou uma Audiência Pública da Comissão de Educação, Cultura e Esportes para a próxima quarta-feira (30), às 13h30, na Câmara Municipal de São Paulo, para tratar o tema.