Arpilleras: luta e empoderamento de mulheres através do bordado

Projeto do MAB, o documentário surgiu como ferramenta para denunciar diversas violações sofridas em regiões de construção de usinas

Arpilleras - Vinicius Denadai

A história de luta das mulheres do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) virou filme. Utilizando uma técnica de bordado chilena, elas narram suas trajetórias no documentário "Arpilleras, atingidas por barragens, bordando a resistência".

O longa-metragem foi viabilizado após a realização de um financiamento coletivo. A estreia será na terça-feira (29), no Cine Odeon, no Rio de Janeiro.

O bordado de arpillera foi usado por mulheres durante a ditadura de Augusto Pinochet, no Chile, para denunciar violações e driblar a censura. No Brasil, a técnica foi ensinada em oficinas realizadas pelo MAB em cinco regiões do país.

O projeto surgiu como uma ferramenta para denunciar, por meio da arte, as diversas violações sofridas pelas mulheres, como conta Neudicléia de Oliveira, da Coordenação Nacional do MAB: "Nós começamos a organizar as mulheres e detectamos que durante o processo de construção das Usinas Hidrelétricas e das Barragens, as mulheres são as que mais sofrem as consequências deste modelo e não têm voz para denunciar".

Em regiões onde hidrelétricas e mineradoras são instaladas, aumentam a violência doméstica, a prostituição e os estupros.

A estudante de agronomia da Universidade Federal do Ceará e militante do MAB, Marina Calisto Alves, é uma arpillera. Para ela, muito mais do que dor, o filme retrata lutas importantes, como a "capacidade de organização coletiva das mulheres, o avanço de consciência política e a autonomia da antiga e da nova geração".

Ela também avalia como positiva sua presença no documentário. "Participar do filme, como uma das 10 mulheres retratadas, foi muito gratificante. Para todas nós, que somos representantes de muitas outras mulheres, foi passear de novo por uma história, com muitas lembranças, dores, alegrias, uma experiência muito gratificante", diz.

O filme foi totalmente produzido e realizado pelas mulheres do MAB em conjunto com o coletivo de comunicação do movimento. Após a estreia no Rio de Janeiro, a expectativa é levar a produção para outras capitais, como São Paulo.