Ciro Gomes afirma que Temer impôs “paradigma econômico mofado”

O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) defendeu a retomada dos investimentos públicos como um dos instrumentos para que o Brasil supere a crise e volte a crescer. Para ele, não há desenvolvimento apenas com iniciativa privada. O pedetista considera que não há desenvolvimento exclusivamente pelo expontaneísmo do mercado, como prega o neoliberalismo, um "paradigma econômico mofado", imposto ao país por Temer e os demais golpistas.

Ciro Gomes - Foto: Guilherme Santos/Sul21

Ao participar de um debate na Confederação Nacional dos Trabalhadores Universitários (CNTU), na última sexta-feira (18), em São Paulo, o ex-ministro Ciro Gomes defendeu a revogação da mudança na partilha do pré-sal aprovada há cerca de um ano e sancionada por Michel Temer. Ciro também defendeu que as terras que estrangeiros venham a comprar no Brasil como prioritárias para a reforma agrária. O ex-ministro, que se coloca como postulante à presidência da República, conclamou Lula, Marina e outros pré-candidatos a se comprometerem a fazer o mesmo. Afirma ele que essa atitude, no mínimo, gerará incerteza política nos compradores que se aliarem ao desmonte do Estado brasileiro promovido pelo, em suas palavras, "canalha que nos governa".

Ao longo do debate, Ciro compartilhou com os trabalhadores sua avaliação do momento político e econômico brasileiro: "não há defeito genético no Brasil" e isso foi demonstrado pela taxa de crescimento que atingimos entre 1930 e 1980, e ainda não equiparada por nenhuma outra nação, assegura.

"São três as razões que proíbem o Brasil de crescer", afirmou. "A taxa de juros altíssima, em um momento de forte recessão brasileira e taxas nulas ou negativas ao redor do mundo, desestimula o investimento e agrava as finanças públicas. A taxa de juros pode ter algum efeito sobre a inflação quando há sobredemanda e assim mesmo com muitas restrições, pois há peculiaridades importantes no mercado de crédito a juros brasileiro, como 'a montanha de crédito dirigido', que fazem a taxa de juros não ter o mesmo efeito que em outros países e só contribuir para um custo impagável, R$ 400 bilhões esse ano, da dívida pública".

O segundo motivo listado por Ciro é o colapso das finanças públicas que nos impinge à menor taxa de investimento público desde a segunda Grande Guerra. Além do baixo investimento público, Ciro questionou se algum empresário "investe para aumentar a capacidade ociosa." Temos no Brasil hoje, informa ele, 30% de capacidade ociosa nas empresas.

Por fim, sustentou que os golpistas impuseram um "paradigma econômico mofado, o neoliberalismo, para conduzir a política econômica". Ciro afirmou reconhecer a importância da iniciativa privada. Declarou, entretanto, que não há experiência histórica de desenvolvimento provocado exclusivamente pelo espontaneísmo do mercado.

No quadro político ele destacou que a figura "escabrosa" de Romero Jucá esteve na liderança do governo de Fernando Henrique Cardoso, dos governos petistas e, agora, está na liderança do governo golpista de Temer. "O Brasil não cabe na disputa entre coxinhas e mortadelas", declara ele. "Da divisão, quem leva é a quadrilha do PMDB", concluiu.

"Há uma repulsa contra nossa representação [legislativa] que nós mesmos construímos", e emendou que "nossa história brasileira não é uma história democrática, ao contrário, nossa história é violenta, autoritária e com pouca vocação para a democracia."

"A reforma política em curso é uma aberração." As mudanças impedirão o voto identitário. "Temos que radicalizar o barateamento das campanhas" e aperfeiçoar o controle social sobre a promiscuidade entre poder econômico e poder político, disse.

Ciro concluiu que para o empresário tomado individualmente o salário pode representar um custo. No entanto, a massa de salários é a responsável pela escala que tornará competitivo o empresário e viabilizará o escoamento de sua produção. "Não será pela vileza com o salário que vamos prosperar", conclui o líder nacional do PDT.