Crise na Indústria Naval: Trabalhadores param atividades na BA

Os trabalhadores do Estaleiro B3, na região de Simões Filho, Bahia, estão com as suas atividades paralisadas desde o início da semana pelo descumprimento do acordo firmado entre o sindicato e a empresa para o pagamento dos salários e benefícios atrasados. O acordo, mediado pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE), previa o acerto nos pagamentos e entrega das cestas básicas.

Trabalhadores na porta do estaleiro B3 na região de Simões Filho (Bahia) - Divulgação

Além desses atrasos, o Estaleiro não recolhe o INSS e o FGTS dos funcionários desde 2015. Este quadro trágico se torna mais absurdo, pois a empresa demite os trabalhadores e estes não conseguem realizar a homologação por conta dos débitos da empresa.

O estaleiro, localizado no Centro Industrial de Aratu, conta com 62 trabalhadores e somente na semana anterior foram demitidos mais quatro funcionários. O B3 chegou a ter 320 trabalhadores entre 2014 e 2015, distribuídos nas plantas de Simões Filho e São Francisco do Conde (BA).

Por diversas vezes a empresa negociou com o sindicato, mas os acordos para a regularização nunca foram cumpridos. Dessa maneira, por inúmeras vezes, o sindicato paralisou as atividades no estaleiro, pois os atrasos são recorrentes. A última greve dos trabalhadores tinha ocorrido em março de 2016, quando reivindicaram o pagamento dos salários e benefícios atrasados, assim como o décimo terceiro de 2015 que ainda não tinha sido pago.

De acordo com o secretário de Imprensa e Comunicação do Sindicado dos Metalúrgicos de Simões Filho, Rodinei de Oliveira Ferreira, o Estaleiro B3 tem contratos, ainda que suspensos, com os Ministérios da Defesa e do Meio Ambiente.

“O contrato com o Ministério da Defesa é para a fabricação de balsa para transporte de óleo para a Marinha do Brasil, fabricação de lancha ambulância de fibra para o Exército do Brasil e uma outra embarcação feita de alumínio. Para o Ministério do Meio ambiente são duas lanchas de alumínio para Agência Nacional de Águas (ANA)”, diz.

Existe também a construção de uma lancha escolar para o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, mas o projeto está parado.

Desmonte

O desmonte da indústria nacional está em processo acelerado nas mãos de Michel Temer e a indústria naval é uma das que mais tem sido impactada. De acordo com dados do Sindicato Nacional da Indústria Naval, as demissões no setor já atingiram 50 mil trabalhadores e dos 40 estaleiros no país, 12 estão parados e os outros operam abaixo da capacidade.

Segundo Rodinei, que é caldeireiro naval no Estaleiro B3, as demissões nas empresas da região são constantes. De janeiro a maio desse ano foram 250 demissões em 55 empresas diferentes, comenta o metalúrgico.

A dirigente da Fitmetal e do Sindicato dos Metalúrgicos de Simões Filho, Valéria Possadagua, aponta que a situação nos estaleiros se agrava desde que começaram as investidas da Operação Lava Jato, quando o governo suspendeu o pagamento das verbas dos contratos com os estaleiros. É de se lembrar que as construtoras investigadas na operação são sócias de muitos estaleiros nacionais.

“Quando a crise se aprofundou a indústria naval sofreu forte queda. Os contratos foram suspensos e os estaleiros ficaram em dificuldade. A Lava Jato afetou toda a indústria naval. O B3 fez acordos, pagaram salários de outros meses que estavam atrasados, mas o restante continua sem previsão. Descontam na folha no trabalhador, mas não pagam o INSS e não recolhem o FGTS”, comenta Valéria.

Nova mediação

A nova mediação da SRTE entre estaleiro e sindicato aconteceria nesta quinta-feira, 17, porém a empresa não compareceu, pois alegou que não foi notificada. Portanto, uma nova audiência de mediação foi marcada pelo SRTE para a próxima terça-feira, 22, às 9 horas.

Os trabalhadores seguem parados!