Loures/Temer convidaram Lava Jato para ir ao Jaburu no impeachment

Um dos procuradores da força-tarefa da Lava Jato, Carlos Fernando dos Santos Lima, deixou escapulir, durante entrevista nesta segunda-feira (14), que recebeu um convite de Michel Temer para comparecer ao Palácio do Jaburu à noite, às vésperas da votação do impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, em 2016.

Procurador da lava Jato

A declaração foi para criticar o jantar de Temer com a procuradora Raquel Dodge, que toma possa em setembro, com o fim do mandato de Rodrigo Janot.

"Eu tenho para mim que encontros fora da agenda não são ideais para nenhuma situação de um funcionário público. Nós mesmos [força-tarefa da Lava Jato] às vésperas do dia da votação do impeachment fomos convidados a comparecer ao Palácio do Jaburu, à noite, e nos recusamos, porque nós entendíamos que não tínhamos nada que falar com o eventual presidente do Brasil naquele momento", disse ele, que foi questionado a explicar qual seria a justificativa para o convite.

"Só houve um convite e nós recusamos", contou. Mas os motivos são evidentes. O procurador disse que a equipe recebeu o convite do então assessor de Temer, o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), que foi flagrado com recebendo uma mala de dinheiro da JBS.

"Ele [Loures] nos convidou a ir até o Palácio [do Jaburu], e nós dissemos que não", disse Lima, explicando que a conversa foi entre Loures e os procuradores Deltan Dallagnol, coordenador Lava Jato, e Roberson Pozzobon.

Após um ano da Lava Jato, o procurador conta como se fosse convidado para assistir uma o partida de futebol e só recusou porque não pegava bem ir ao Jaburu sem que o encontro estivesse na agenda.

Sobre Dodge, o procurador de Curitiba não fez questão de esconder o clima de poucos amigos com a procuradora que sucederá Janot, cujo mandato à frente da PGR se encerra em 17 de setembro.

"Não sou corregedor do MP. Posso dizer por nós. Tivemos uma situação semelhante e nos recusamos a comparecer. Nós temos agora que avaliar as consequências dentro da política que o MP vai ter a partir da gestão dela", afirmou.

Em artigo publicado no Tijolaço, o jornalista Fernando Brito destaca: "A Lava Jato tornou-se, de fato, um poder autônomo no Brasil. Sérgio Moro discorda das decisões do Supremo em despacho nos autos judiciais. Agora, o procurador-mentor da Lava Jato, Carlos Fernando dos Santos Lima, vai aos jornais dizer que a, em tese, sua futura chefe tem de se explicar sobre o encontro com Michel Temer no Palácio do Jaburu".