Trump ameaça trazer uma guerra civil para a América do Sul

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse sexta-feira (11) não descartar uma intervenção militar na Venezuela em função da crise política vivida pelo país.

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“Não vou afastar uma opção militar, temos muitas opções para a Venezuela. É um vizinho”, afirmou Trump em seu clube de golfe de Bedminster, Nova Jersey, onde passa suas férias. “Temos tropas em todo o mundo, em lugares muito distantes, e a Venezuela não fica tão longe”.

Trump teria ainda recusado uma ligação de Maduro. Em resposta, o ministro da Defesa do país, Vladimir Padrino, denunciou o comportamento e comentários do presidente dos EUA: “É um ato de loucura. De supremo extremismo. Há uma elite extremista que controla o país”, ele disse em comentários à imprensa.
 
Brasil
Em artigo publicado na RBA, o senador pelo PT-RJ Lindbergh Farias e a professora de História da Universidade Federal da Paraíba (UFPB)  Jaldes Meneses criticaram o posicionamento do governo brasileiro na crise venezuelana. “É terrível a posição apequenada do Brasil, que adquire expressão concreta na linha de nossa diplomacia nos fóruns internacionais. No caso da Venezuela, o governo brasileiro adotou uma oposição tão frontal ao governo venezuelano que deixou de ser um interlocutor. Deixamos de exercer um papel mediador na região, tradicional deste o Barão do Rio Branco, irremediavelmente perdido enquanto perdurar a atual orientação confrontacionista no Itamaraty”, diz o texto.
 
Para o ex-chanceler e ex-ministro da Defesa Celso Amorim, é preciso repudiar a postura de Trump. “A ameaça de uso da força tem que ser repudiada com veemência. Além de violar princípios básicos do Direito Internacional, ameaça trazer uma guerra civil (um novo Vietnã) para a América do Sul e a nossa fronteira”, sustenta. “Embora não tenha dúvida sobre quem será vitorioso e quem será derrotado, uma guerra civil trará sofrimentos indizíveis ao povo venezuelano. Não podemos ficar indiferentes diante da agressão e da tragédia.”
 
Peru, Colômbia, México e Mercosul
 
"O repúdio à violência e a qualquer opção que envolva o uso da força é inarredável e constitui base fundamental do convívio democrático, tanto no plano interno como no das relações internacionais", afirmou o Mercosul.
 
Os países do Mercosul, completa a nota, continuarão insistindo, de forma individual e coletiva, para que a Venezuela "cumpra com os compromissos que assumiu, de forma livre e soberana, com a democracia como única forma de governo aceitável na região". O bloco diz que democracia no país foi afetada – o que Caracas nega. A Venezuela está suspensa do Mercosul.
 
A Colômbia seguiu o mesmo tom. "Rejeitamos medidas militares e o uso da força no sistema internacional. Todas as medidas devem ocorrer sobre o respeito da soberania da Venezuela e através de soluções pacíficas", indicou o Ministério de Relações Exteriores, em nota.
 
Para o México, a crise na Venezuela não pode ser resolvida com ações militares. "O governo do México expressa sua rejeição ao uso ou à ameaça de uso da força nas relações internacionais, e afirma que a crise na Venezuela não pode ser resolvida através de ações militares, internas ou externas", afirmou a Secretaria de Relações Exteriores (SRE) em comunicado.
"Da mesma forma, os países que assinaram a Declaração de Lima rejeitaram demaneira enérgica a violência e o uso da força", completou a nota da Chancelaria mexicana.
O Peru, que atravessa uma crise diplomática com a Venezuela, também rechaçou as ameaças. "Toda tentativa interna ou externa para recorrer à força solapa o objetivo de restaurar a governabilidade democrática na Venezuela, bem como os princípios consagrados na Carta das Nações Unidas", disse o Ministério de Relações Exteriores.
Pelo Twitter, o presidente da Bolívia, Evo Morales, também expressou seu rechaço. "Trump revela descaradamente seu plano de intervenção militar contra a Venezuela", afirmou.
 
China


A China repudiou as ameaças de Trump e disse, através do Ministério de Assuntos Exteriores, que as relações bilaterais devem manter "sempre o princípio de não interferir nos assuntos internos de outros países".
 
"Todos os países devem conduzir suas relações bilaterais sobre a base da igualdade, do respeito mútuo e da não ingerência nos solta assuntos internos de outros países", destacou em uma coletiva de imprensa o porta-voz do ministério Hua Chunying.