Saudações a quem tem coragem

A União Nacional dos Estudantes – UNE completa 80 anos com a mesma coragem de nossa juventude e nossos estudantes. 

Por Orlando Silva, especial para o Vermelho

Orlando Silva, UNE - Divulgação

Graças a ousadia e a determinação desses brasileiros e brasileiras, que enfrentaram ditaduras, repressões, modelos econômicos entreguistas de nossas riquezas, sistemas políticos e sociais de pouco espaço ao diálogo com a maioria do povo, conseguimos enfrentar desafios e vencer. Não há fato na História do Brasil, desde 1937, que a UNE não estivesse envolvida, em muitos momentos como protagonista com mobilizações e bandeiras.

Tive a oportunidade de ser tesoureiro da UNE em 1992, período do Impeachment de Collor, onde tivemos um importante papel no enfrentamento contra a corrupção e principalmente contra a aplicação do modelo neoliberal no Brasil. Naquele período era estudante de Direito da Universidade Católica de Salvador, membro do Centro Acadêmico Teixeira de Freitas e do DCE. Cheguei em São Paulo em março daquele ano direto para o “olho do furacão” em que o movimento estudantil estava enfiado. Depois fui diretor de Comunicação da UNE em 1993, período do governo Itamar Franco, onde nossa principal bandeira era a defesa da universidade pública e contra os abusos das mensalidades escolares e a qualidade do ensino nas instituições particulares. Foi nesse período que recuperamos a propriedade do terreno da Praia do Flamengo, antiga sede da UNE destruída pelo regime militar.

Em 1995, no Congresso da UNE de Brasília, tive a honra de ser o primeiro negro eleito para a presidência da entidade. Nesse período acabara de ser empossado com alta popularidade o presidente Fernando Henrique que imprimiu uma política de desmonte do Estado brasileiro e aprofundamento da aplicação do neoliberalismo. Minha gestão foi marcada pela defesa da soberania nacional do Brasil, a denúncia contra as arbitrariedades do governo FHC, contra as privatizações, a defesa da universidade pública, gratuita e de abrangência no território nacional, pela regulamentação das instituições privadas, pela qualidade do ensino superior e contra os aumentos abusivos das mensalidades.

Creio que tivemos êxitos em muitas de nossas batalhas daquele período, houve grande unidade do movimento estudantil na oposição ao governo federal. Os anos 1990, foi um período de grande ofensiva das forças conservadoras no País e o nosso papel fundamental foi o de resistir e lutar contra os desmandos e a falta de diálogo do governo.

Período seguinte veio nova ofensiva do governo Fernando Henrique Cardoso aprovando a reeleição, mas não duraria muito. Os movimentos populares, inclusive com papel destacado da UNE, se mobilizaram para derrotar esse governo, como foi na Marcha dos 100 mil em Brasília em 1999 e nas eleições presidenciais de 2002.

Em certa medida, após o impeachment de Dilma Rousseff, o Brasil retrocedeu a uma agenda dos anos 1990. Na pauta, reforma trabalhista, reforma da Previdência, as privatizações e concessões indiscriminadas que apenas beneficiam parte dos detentores do capital, desregulamentações e desnacionalização da produção nacional. Voltamos, em outra frente de luta, com o mesmo espírito aguerrido a lutar em defesa do Brasil.

A UNE é um patrimônio do Brasil e de seu povo, sua trajetória é carregada de atitudes de coragem e determinação. Saudações a quem tem coragem!