Resistindo às ofensivas, estudantes ficam sem água e comida na Câmara

Presidente da Câmara, Milton Leite (DEM), recusa diálogo, corta água da Câmara e impede que estudantes recebam comida durante a ocupação que começou nesta quarta-feira (9) contra as políticas de privatização e de corte do Passe Livre Estudantil da gestão do prefeito João Doria (PSDB).

Por Verônica Lugarini*

Estudantes ocupam Câmara de São Paulo - Mídia Ninja

A ocupação do plenário da Câmara dos Vereadores de São Paulo segue para o segundo dia, mesmo após a tentativa do presidente da Câmara de sabotar a manifestação dos estudantes ao deixá-los em situação análoga a cárcere privado, ou seja, impedindo a entrada de comida, restringindo o acesso a água e consequentemente, o uso de apenas um banheiro que foi disponibilizado no local.

Essa restrição aos 80 estudantes, que ocupam o plenário, durou 10 horas e só foi revertida, tarde da noite desta quarta-feira, após negociações do Padre Júlio Lancellotti e dos deputados como Eduardo Suplicy (PT), Juliana Cardoso (PT) e Sâmia Bomfim (Psol).

Sob o lema “Ocupar e Resistir”, os estudantes reivindicam a imediata formação de audiências públicas para discussão dos projetos de privatização do Prefeito João Doria – que autoriza a venda de qualquer terreno de até 10 mil m² – plebiscitos para que o povo seja consultado e decida os rumos da cidade, além da revogação imediata do corte do Passe Livre Estudantil.

Na manhã desta quinta, os movimentos conversaram com a imprensa e afirmaram que seguem firmes na luta contra as privatizações do patrimônio e transporte público na cidade. Os jovens tentam conversar e chegar a um acordo com o deputado Leite, mas sem sucesso.

“Tentamos diálogo com o presidente, mas ele nos deixou passando fome, cortou a água do banheiro. Com tudo isso, ele mostrou que não quer conversar com o povo. Inclusive, ele disse que não tinha negociação”, afirmou Taina Carvalho, Frente Única da Cultura São Paulo durante a coletiva.

Sobre a poucas audiências públicas realizadas por Milton Leite, João Gabriel destacou que elas aconteceram de forma excludente.

“Milton Leite disse que foram realizadas audiências públicas, mas elas aconteceram na Câmara em horários inviáveis para participação da população, como em horário de trabalho. A forma como as leis são abordadas também pode dificultar o entendimento de todos, por serem tratadas com alta complexidade. Queremos a participação popular e não sua inviabilização”, explicou Joao Gabriel, do Sindicato dos Servidores de São Paulo.

Além disso, os manifestantes frisaram que a gestão Doria ignorao déficit territorial que atinge São Paulo ao privatizar terrenos da prefeitura. Hoje, a prefeitura aluga locais para instalação de UBS e creches.

Já em relação ao corte do Passe Livre Estudantil, os estudantes destacaram que há uma política de higienização na cidade, excluindo a periferia dos centros e impedindo o acesso aos espaços culturais, como teatros, museus e cursos.

Reintegração

Os estudantes ainda afirmaram que, até o momento, não receberam notificação de reintegração de posse e que permanecerão na Câmara até que suas reivindicações sejam atendidas, inviabilizando assim, a atividade plenária. Com isso, eles esperam ser finalmente ouvidos pelo deputado Leite para que ambas as partes possam avançar nas negociações.

Os manifestantes também frisaram que, no caso de reintegração, a decisão da saída ou da permanência é coletiva porque o movimento é autônomo.

Passe Livre

O benefício do Passe Livre foi instituído em 2015, durante a gestão prefeito Fernando Haddad, beneficiando na época ao menos 505 mil estudantes e previa uma cota igual ao número de dias letivos nas instituições de ensino, com limite de oito embarques por dia, a serem realizados no período de 24 horas. Com as mudanças implementadas, as cotas gratuitas de passagens passaram a ter um limite de 48 por mês, e com uso restrito a um período de apenas duas horas cada uma, contadas a partir do registro da primeira utilização.

Na prática, o aluno poderá usar uma cota para ir à escola – com possibilidade de usar quatro ônibus diferentes – e uma para voltar para casa. Segundo a prefeitura, a medida foi tomada para que as passagens gratuitas contemplem “a real necessidade de deslocamentos vinculados à atividade escolar”.