José Carlos Ruy: Os fantasmas de Temer

Michel Temer, o usurpador da presidência da República foi salvo pela votação na Câmara dos Deputados que, nesta quarta-feira (2) rejeitou por 263 votos a 227 a denúncia por crimes de corrupção passiva apresentada contra ele pela Procuradoria Geral da República.

Por José Carlos Ruy*, no Blog do Sorrentino

Michel Temer - Ueslei Marcelino/Reuters

Temer e aqueles que o cercam comemoraram, claro, o resultado, e se apressam agora em tentar rearranjar a desmantelada “base governista” na Câmara dos Deputados, preparando-se para o novo passo nas contra reformas reacionárias pretendidas pela direita golpista – agora investem na tentativa de aprovar a mudança na Previdência que praticamente impedirá que os trabalhadores se aposentem.

Terão condições para isso? Esta não é uma pergunta ociosa quando se leva em conta a situação da chamada “base governista” na votação da quarta feira.

O resultado livrou Temer de um processo de impeachment. Mas precisa ser visto com cuidado. Um aspecto que merece atenção é o grande número de deputados que, ao votar contra a denúncia, seguiram a indicação do relator, deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG) e fizeram questão de alertar que votavam a favor de Temer em nome da estabilidade política. Mas que depois de 1º de janeiro de 2019, quando Temer já não será presidente da República, ele poderá ser processado e julgado pelos crimes de que é acusado pela PGR. Isto é, foram deputados que declararam votar por uma pretendida estabilidade política, mas não a favor de Temer.

Outro aspecto que relativiza a vitória de Michel Temer são as freqüentes denúncias de compra do apoio de deputados, para votarem a seu favor – segundo as quais seu governo fez de tudo, ao custo de mais de R$ 17 bilhões em troca desse apoio. Foi noticiado que, mesmo no momento da votação, ministros que reassumiram seus mandatos de deputados para votar pelo governo, foram vistos circulando entre os deputados com listas de emendas parlamentares e, com elas em mãos, negociando o voto naquela sessão.

Apesar desse esforço todo, o resultado da votação na sessão ocorrida na Câmara dos Deputados foi apertado para o governo. Sua chamada base parlamentar emagreceu e, com minguada aprovação popular, Temer sai enfraquecido deste embate.

Novas denúncias virão, dizem os noticiários. E embates ainda piores para o governo, que anuncia a disposição de insistir nas contra reformas reacionárias, como a reforma da Previdência, que prejudica o povo e os trabalhadores. Mesmo comentaristas conservadores, que defendem essas mudanças, já questionam: com que musculatura parlamentar Temer contará para levá-las adiante. E de onde virá a força para enfrentar a oposição e a rejeição popular que vão crescer ainda mais?

O resultado da sessão de quarta-feira na Câmara dos Deputados afastou, temporariamente um dos fantasmas que atormentam Temer – a denuncia da PGR. Mas está longe de tirar do cenário o Fora Temer e a exigência de Diretas Já, que vai continuar nas ruas, nas mentes e nos corações dos brasileiros. Pelo contrário, as bandeiras pela democracia, pela volta do desenvolvimento e pela soberania nacional vão crescer. Não serão arriadas.