Financial Times: violência do Rio é reflexo da crise e da corrupção

O jornal britânico Financial Times publicou um longo texto sobre a situação do Rio de Janeiro um ano após os Jogos Olímpicos; Estado foi dominado por escândalos de corrupção, economia decrescente e por uma onda de crimes violentos, diz o periódico. "O Rio de Janeiro se tornou o símbolo mais marcante de tudo o que está acontecendo com o maior país da América Latina"

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O jornal britânico Financial Times publicou nesta quinta-feira (3) um longo texto sobre a situação do Rio de Janeiro um ano após os Jogos Olímpicos.

FT
entrevistou moradores de comunidades que vem sentindo um crescente aumento da violência. O editorial aborda temas de segurança pública e comenta a decisão do governo federal de enviar 10.000 soldados para proteger ruas e praias. "Isto acontece exatamente um ano depois que a cidade hospedou as primeiras Olimpíadas da América do Sul."

O artigo lembra que as Olimpíadas de 2016 foram projetadas para mostrar as conquistas do Brasil. No entanto, a realidade pós-jogos tem sido o contrário.

Estado foi dominado por escândalos de corrupção, economia decrescente e por uma onda de crimes violentos, diz o periódico.

"O Rio de Janeiro se tornou o símbolo mais marcante de tudo o que está acontecendo com o maior país da América Latina".

O diário lembra os tempos áureos do Brasil, com uma economia emergente e afirma que o país está sofrendo a sua pior recessão na história. Um escândalo de corrupção na Petrobras implicou grande parte da elite política, incluindo o presidente Michel Temer, que sobreviveu a uma votação no congresso na quarta-feira sobre se ele deveria enfrentar um julgamento criminal. Um ex-governador do estado do Rio, Sérgio Cabral, já foi preso como resultado do escândalo, que ameaça as carreiras de dezenas de outros políticos do estado.

A crise econômica do país desperdiçou os orçamentos governamentais e o governo estadual foi forçado a declarar estado de emergência financeira no ano passado mas enfrenta atualmente déficits orçamentários dramáticos em seus hospitais e escolas.

FT analisa que a paralisia política causada pelos escândalos de corrupção criou um vácuo que as gangues criminosas do Brasil estão tentando rapidamente preencher.

O noticiário afirma que de acordo com a secretaria de segurança do estado, o número de assassinatos no estado do Rio aumentou 10 por cento nos primeiros seis meses do ano para 2.723, enquanto as mortes durante os confrontos com a polícia aumentaram 45 por cento. Embora ainda menor em comparação com o Rio na década de 1990, a taxa de assassinato está aumentando rapidamente.

Tiroteios entre policiais e gangues estão matando mais inocentes com balas perdidas. Em um incidente recente, uma bala atingiu uma mãe grávida, ferindo mortalmente o bebê. Em outra ação, um porteiro foi morto por uma granada perto de Copacabana.

Times diz que segundo uma contagem da mídia local o Rio é um dos lugares mais perigosos do mundo para ser policial, com 91 mortos até agora este ano.

O estado do Rio de Janeiro foi governado pelo senhor deputado Cabral, um político popular e centrista. Uma das suas iniciativas mais importantes foi instalar uma nova iniciativa policial comunitária, chamada unidades de pacificação policial, ou UPPs, em algumas das muitas favelas da cidade. Durante algum tempo, a presença policial pareceu reduzir o conflito armado. Mas as promessas de acompanhar o aumento do investimento público nas favelas não foram cumpridas. Ativistas sociais suspeitavam que o programa da UPP visava bloquear as favelas durante a hospedagem do país durante a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas e permitir que Cabral ganhasse a reeleição, complementa Financial Times.

O Rio começou a afundar no fim do super ciclo de commodities após 2011. O gasto público considerável que sustentou o governo Cabral no Rio secou. Para o Rio, a ressaca das Olimpíadas começou imediatamente depois quando o enorme programa de segurança organizado para os Jogos foi retirado. O número de assaltos começou a subir. Cabral foi acusado de corrupção e preso. O estado foi praticamente falido, sem dinheiro para saúde, educação e especialmente segurança.

Alguns analistas e residentes da favela culpam a corrupção pela crescente violência, enquanto outros dizem que a crise econômica está forçando os narcotraficantes a lutar pela participação no mercado. Uma pessoa familiarizada com o comércio de drogas diz que os traficantes disseram que estavam vendendo 60 por cento menos de cocaína por causa da recessão.

A violência das quadrilhas também aumentou devido a uma disputa entre duas facções criminosas dominantes do Brasil – o Primeiro Comando da Capital em São Paulo e Comando Vermelho, com sede no Rio, dizem analistas.

Times dedicou um bloco especialmente para falar sobre o ex-governador Sergio Cabral, com a chamada "Queda do Rei do Rio' expõe corrupção em escala.