Batista Lemos: "A Volks financiou o golpe e perseguiu trabalhadores"

João Batista Lemos, presidente do PCdoB do Rio de Janeiro, tem acompanhado a repercussão na Alemanha e no Brasil sobre a colaboração da Volks com a ditadura militar brasileira. Metalúrgico, Batista trabalhou de 1977 a 1980 na empresa alemã. Foi demitido, teve a casa revirada e o nome incluído em uma lista preparada pela Volks para o Departamento de Ordem Política e Social (Dops). 

Por Railídia Carvalho

João Batista Lemos em entrevista no Retrato do Brasil

O motivo da demissão era a atividade política na estruturação do sindicalismo no ABC paulista. Depois passou pela Mercedes mas não conseguiu mais emprego na região.

“É uma repercussão internacional importante. A Volks financiou o golpe de 64, e além de financiar, perseguiu trabalhadores articulando informações com o Dops e com os aparelhos de perseguição aos que resistiam à ditadura”, declarou ao Portal Vermelho o dirigente comunista.

Uma história pouco contada no Brasil, começa a ser desvendada na Alemanha. Um canal público de TV local lançou o documentário “Cúmplices? A Volkswagen e a ditadura militar no Brasil“.O filme conta a história do operário Lúcio Bellentani que, de acordo com depoimentos de trabalhadores à época, foi preso e torturado nas dependências da empresa. 
 
Entre os depoimentos no documentário, está o do historiador contratado pela Volks, Christopher Kopper, que, ao contrário do que a contratante esperava, confirmou a parceria entre a empresa alemã e o regime brasileiro. 
Mentalidade nazista
Batista foi demitido enquanto organizava as greves de 1980: “Tinha dois policiais me aguardando no vestuário afirmando que eu devia ir ao recrutamento. Fui demitido e me disseram que era porque participava do comando de greve”.
 
Anos depois ele soube que foi monitorado pelo Serviço Nacional de Informação (SNI), atual Abin, de 1977 a 1988. Anistiado em 2013 pelo Estado brasileiro, Batista ressaltou que tornar públicas as violações aos direitos humanos praticadas pela Volks no Brasil e na Alemanha “denuncia o recorte de classe do golpe de 64, que foi contra a classe trabalhadora, contra a soberania nacional e contra a democracia”.
 
Batista narrou o caso de um ex-operário da Volks, Amauri Dagnone, que foi entregue pela empresa ao Dops, onde foi torturado e anos depois morreu em consequência da violência física e psicológica. O operário contou um pouco de sua história a Batista.
 
“Amauri foi preso na Volks por policiais do Dops, ficou encarcerado três anos, foi torturado. Levaram ele na porta da Volks depois para entregar o pessoal que saía. Era tanta gente que ninguém parou para cumprimenta-lo achavam que ele ia entregar. Amauri contou que foi um momento dos mais difíceis. Ele ficou quase cego de um olho e também com problemas devido aos espancamentos. A Volks tinha a cultura nazista”, completou Batista.
 
Na opinião do dirigente, a repercussão na Alemanha também vem em um momento em que o Brasil passa por retrocessos em relação à reparação às vítimas da ditadura. Em entrevista ao portal Vermelho em julho, o advogado Egmar Oliveira confirmou que os projetos consolidades no governo Lula estão paralisados assim como os julgamentos de requerimentos de anistia.
“Por isso que a nossa primeira tarefa é conquistar a democracia e levar o povo para as ruas para derrubar o temer. De outro lado vamos desmascarando – inclusive para os trabalhadores da Alemanha – o papel da Volks apoiando a perseguição a seus trabalhadores”.

MPF apura violações contra trabalhadores na ditadura

Resultado dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, que atuou entre 2012 e 2014, há um inquérito civil instalado no Ministério Público Federal par apurar essas violações contra os trabalhadores. A criação da iniciativa teve a participação ativa de um fórum de centrais sindicais. 
Batista foi ouvido no ano passado pelo Ministério Público Federal em São Paulo.

Na ocasião do depoimento, em entrevista ao Portal da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, Batista declarou que o Estado brasileiro havia até aquele momento cumprido seu papel ao pedir perdão e fazer medidas de reparação aos que lutaram pela democracia. 

“Agora cabe às forças armadas e às empresas que apoiaram e financiaram a ditadura fazer uma autocrítica e pedir perdão ao povo”.

No dia 9 de agosto, a Câmara Municipal de São Paulo vai exibir seguido de debate o documentário da TV Alemã , às 18h, no Salão Nobre da Casa.