Imprensa internacional se posiciona sobre o julgamento de Temer

Desde quarta-feira (2) a visão sobre o Brasil internacionalmente piorou. Ao votarem contra o julgamento de Michel Temer, os deputados se mostraram passíveis diante da corrupção e desrespeitaram a vontade de 81% dos brasileiros, segundo o “The Guardian”, que queriam que o presidente fosse julgado.

Por Carolina Marcheti

temer

A seguir, um resumo do que diversos portais estrangeiros disseram sobre o episódio da quarta feira(2) no qual 263 deputados votaram contra o julgamento de Temer. Alguns portais criticam a contradição entre o impeachment de Dilma (que não cometeu nenhum delito) e Temer que não será julgado por seu suposto crime. Afinal, muitas declarações de deputados contra a corrupção na verdade condiziam com a tomada de lado por esses parlamentares que se preocupam apenas com seus desejos pessoais.

El País

O jornal Espanhol reforçou como Temer e seus aliados fizeram o que podiam, inclusive o site de notícias satirizou sobre um possível “pacto com Deus e com o diabo” para justificar a continuação do presidente em seu cargo.

O “El País” também destaca como a imagem dos políticos brasileiros está a pior possível depois não só do resultado da votação, mas também do dia “cheio de discussões bizantinas processuais, truques obstrucionistas e episódios grotescos”.

É citado o deputado Wladimir Costa (SD-PR) que foi motivo de chacota ao tatuar o nome “Temer” em letras garrafais em seu braço como forma de idolatria ao acusado de corrupção.

O texto termina com a fala do deputado da oposição Silvio Costa (PT-PE) que destacou uma realidade: "Você não percebe que nós estamos fazendo a corrupção ser oficial".

The Guardian

Para o jornal inglês “The Guardian”, o congresso agiu de forma contraditória e não respeitou a vontade da população.

A contraditoriedade vêm do fato de que Dilma Roussef sofreu um impeachment devido à quebra de regras de orçamento. As alegações em relação a Temer são muito mais graves pois ele “inovou” ao se tornar o primeiro chefe de Estado do país a ser formalmente acusado de um crime.
Apesar de 81% da população ser a favor do julgamento de Michel Temer, ele não será julgado por causa de um congresso que deixou sua credibilidade em frangalhos – o que condiz com sua condição, já que de acordo com o site inglês, 190 dos 513 deputados capazes de votar enfrentam processos criminais.

O site cita Paulo Baía, cientista político da Universidade Federal do Rio de Janeiro: "Isso é o que causa essa sensação de vergonha[…]Esta é a política do patrimonialismo, da troca de favores, dos interesses privados – e não do bem público".

Le Monde

O periódico Francês que chama Temer de “Presidente zumbi” disse que ele promete “favores” em troca de seus desejos e pensa apenas em sua sobrevivência política. É citado o jantar realizado por Temer, no qual ele chamou quase cem deputados considerados “indecisos” e não pertencentes aos grandes partidos (subliminarmente, isso denota que o presidente pode ter tentado comprar votos).

Temer conseguiu não ser julgado e havia pouco suspense de acordo com a “Le Monde”, o que sugere que já era sabido que o presidente iria se safar apesar de uma maioria esmagadora da sociedade ser contra isso. Foram citadas falas de deputados a favor do julgamento: “ o tom indignado de alguns deputados, acusando-o de ser um "ladrão" (Major Olímpio partido Solidariedade, SD), tendo " contaminado o Brasil "(José Guimaraes, PT) ou denunciando uma política que destrói os direitos dos trabalhadores"(Carlos Zarattini, PT)”

Público

O jornal português acusou o congresso brasileiro de viver em uma realidade alternativa à dos brasileiros pois segundo as pesquisas, 81% da população concorda para que haja um processo contra o Presidente da República.

Ainda é reiterado que Dilma Roussef foi destituída de seu cargo presidencial sem nunca ter participado de uma ação penal e já Michel Temer, além de ser acusado, possui apenas 5% de aprovação.

The intercept 

O artigo do periódico estadunidense “The Intercept” é escrito por Gleen Greenwald (jornalista, advogado e co-fundador do "The Intercept") que descreve a sessão congressista como “um dos espetáculos políticos mais nauseantes e humilhantes que eu já vi ocorreu ao longo de nove horas”. Ele explica sua fala dizendo que além de a maioria dos deputados serem investigados por corrupção, um atrás do outro justificava ser contra o julgamento evocando “sua religião, seu Deus, seus filhos, sua devoção a Jerusalém, a memória de sua mãe, seu pastor…”. Além disso, de acordo com ele, poucos estavam dispostos a realmente falar sobre Temer, “eles se arrastavam até o microfone quando seus nomes eram chamados e diziam seu voto de proteção ao suborno fazendo o menor barulho possível”.

Para ele, “a classe política e de mídia incomumente corrupta do Brasil destruiu o país, reverteu de forma efetiva e deliberada o resultado das eleições de 2014, insistindo que sua alta ética e solene respeito pelo Estado de Direito simplesmente não poderiam tolerar os truques mundanos e comuns do orçamento que Rousseff implantou para tornar a economia mais forte do que realmente era […]Basta pensar nisso: o país que, há pouco mais de um ano, fingiu ser tão ofendido moralmente pelos truques orçamentários de Rousseff agora instala um Presidente que endossa o pagamento de subornos para garantir o silêncio de suas testemunhas”.

Greenwald ainda diz que os motivos para o impeachment ter ocorrido foram: 1) proteger a classe política do Brasil de investigações de corrupção ao capacitar as figuras mais corruptas e deixá-las destruir a investigação, e 2) servir os interesses de plutocratas domésticos e finanças internacionais por "reformar "Programas sociais para os mais pobres da nação em nome da" austeridade ".