Oposição sobre votação da denúncia: "Quórum é preocupação do governo"

Há uma semana da votação em plenário da Câmara dos Deputados sobre o prosseguimento ou não da denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Michel Temer, por crime de corrupção passiva, marcada para o dia 2 de agosto, a movimentação de bastidores é intensa apesar do recesso parlamentar.

Por Dayane Santos

Antes do recesso parlamentar, líderes do governo e da base aliada discursavam dizendo que o quórum para iniciar a votação é de responsabilidade da oposição. Na verdade, o discurso tinha como objetivo camuflar o isolamento do governo , que teme não conseguir os 342 deputados em plenário, saindo derrotado da sessão.

Nesta quarta-feira (26), em entrevista ao G1, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirmou que o governo tem “absoluta certeza” da vitória na votação da denúncia contra Temer.

“Temos certeza que vamos rejeitar no plenário, como foi rejeitado na Comissão de Constituição e Justiça, o pedido de abertura de processo crime contra o presidente da República. Isso nós temos absoluta certeza que acontecerá”, disse Padilha. Na comissão o governo usou de manobras como a troca de 19 integrantes da CCJ e liberação de verbas de emendas parlamentares em troca da rejeição da denúncia.

Parlamentares do PCdoB ouvidos pelo Portal Vermelho, afirmam que quem tem que se preocupar com o quórum é o governo, que vai precisar de 342 deputados no plenário para abrir a sessão.

"A bancada do governo se movimenta para impedir o prosseguimento da denúncia e o que eles se exponham para o país. Portanto, nós estaremos lá para dar o quórum, mas analisaremos o momento adequado", informou a líder da bancada comunista, Alice Portugal (BA).

A deputada disse ainda que o PCdoB vai buscar harmonizar a posição com os demais partidos da oposição e deputados avulsos, inclusive de partidos da base aliada do governo, que votarão pelo prosseguimento da denúncia. A estratégia é estabelecer a entrada adequada da bancada em plenário, considerando que é obrigação da bancada de governo garantir o quórum.

Os deputados estarão presentes ao plenário, mas não deverão registrar presença no painel, pois, assim, será possível saber se o governo terá a força necessária para colocar em plenário os 342 deputados necessários para iniciar a votação.

"Se o governo não tiver quórum, não vai contar conosco para garanti-lo. O interesse de votar é do governo", enfatizou o deputado Rubens Pereira Júnior (PCdoB-MA).

O deputado maranhense destaca que o governo não exerce o poder com legitimidade, já que Temer chegou à presidência por meio de um golpe.

"Perda do apoio popular e, agora, do apoio político também. E a impressão que tenho é que quanto mais próximo da eleição, menos apoio político ele terá, apesar dos métodos heterodoxos que tem usado no sentido de ampliar e garantir essa base parlamentar. Mas nenhum governo se sustenta com apenas emendar parlamentares e cargos. É preciso muito mais e o Temer não reúne essas condições", frisou Rubens.

Para o deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA), as manobras em negociatas em troca de votos para salvar a pele de Temer só demonstram o "despudor e descompromisso com a democracia e com o Brasil".

"Vai na linha do vale-tudo na base do dinheiro, comprando interesses e apoios. Nesse modelo ele pode assegurar o número de votos suficientes para não ter o prosseguimento da denúncia. Agora, não alcançará a maioria, o que revela um governo com perda de base de maioria no parlamento, afundando mais ainda no pântano de ilegitimidade e corrupção e de sua incapacidade de falar com o mínimo da sociedade brasileira", declarou o deputado baiano.

Oposição

Líderes das demais bancadas da oposição também afirmam o quórum é preocupação do governo. “Todos nós estaremos na Câmara. Agora, quórum dentro da sessão, nós não daremos para simplesmente a base do governo, comprada com emendas, liberação de verbas, acabar com o processo”, disse o deputado Chico Alencar (Psol-RJ).

“O nosso objetivo é fazer com que os deputados da base do governo compareçam para que eles votem no microfone e manifestem sua opinião publicamente. Nós achamos que eles vão ser constrangidos numa situação em que o governo tem um alto grau de impopularidade. Portanto, nós acreditamos que muitos dos da base vão votar pelo afastamento de Michel Temer”, afirmou o deputado Carlos Zarattini (PT-SP).

"Não podemos garantir sessão com quórum baixo. Precisamos obrigar o deputado a se expor com o voto", disse o deputado Alessandro Molon (Rede-RJ). "Se a oposição não marca presença, deputados que optariam pela abstenção ou ausência serão obrigados a registrar quórum para ajudar o governo", acrescentou.