Ex-alunos defendem a Unila de projeto de descaracterização

Criada em 2010, por iniciativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Universidade Federal da Integração Latino-americana (Unila), instalada na região da tríplice fronteira entre Brasil, Argetina e Paraguai, em Foz do Iguaçu, está em risco como projeto de integração da região.

Unila - Fachada - Divulgação / Unila

Uma emenda aditiva apresentada ao Congresso Nacional pelo deputado Sérgio Souza (PMDB-PR) pretende não só acabar com a essência do projeto como também o da Universidade Federal do Paraná, a mais antigas do país. A proposta de Souza prevê, entre outras medidas, o fim da Unila e a incorporação de dois campi da UFPR à uma nova instituição denominada Universidade Federal do Oeste do Paraná.

O estranho é que já existe na região uma Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). Assim, a emenda estaria destruindo dois projetos já existentes e bem sucedidos para criar um terceiro com limitadas possibilidades de ter bons resultados ou de ser um aporte efetivo ao conhecimento e à educação.

Em defesa do projeto, Souza assegura que os estudantes da Unila seriam integrados automaticamente à nova universidade, embora esta já não teria obedeceria aos parâmetros do projeto integracionista que regem a instituição atual.

Muitos ex-alunos, professores e até a ex-presidenta Dilma Rousseff se pronunciaram em defesa do atual projeto da Unila. Alexandre Andreatta, diretor executivo do Observatório da Democracia do Parlamento do Mercosul (ODPM) e também aluno egressado da Unila escreveu o artigo a seguir, em defesa da universidade.

Que façamos juntos a diferença, defendamos a integração regional, defendamos a Unila

Um país grande pensa grande age com grandeza através de sua política institucional, seja na defesa dos seus interesses, de sua cultura ou na expansão dos seus ideais. E uma das ações de grandeza do Estado brasileiro reflete-se na criação da Universidade Federal da Integração Latino-americana (Unila).

Assim, é com estranheza e preocupação que tomamos ciência nos últimos dias da notícia sobre a tramitação de uma Emenda Aditiva à Medida Provisória 785/2017, (que originalmente trata do Fundo de Financiamento Estudantil) propondo a transformação da UNILA, na “Universidade Federal do Oeste do Paraná (UFOPR)”.

Tal iniciativa causa preocupação não apenas pelo rito processual da matéria, sem que tenha sequer sofrido o crivo do debate político no Congresso Nacional, mas pela proposta de descaracterização da implantação da UNILA, em desrespeito à autonomia universitária e consequentemente do processo de integração latino-americano, além do apequenamento do país caso se decida abandonar um projeto político que o torna pioneiro na América Latina.

Entendemos que os processos de integração regional enfrentam grandes desafios políticos que, se não forem adequadamente confrontados, poderão provocar sérios retrocessos. A aventura do Reino Unido de retirar-se da União Europeia e, no âmbito do Mercosul, a inflexão recente da política externa dos países do bloco, que poderá resultar no seu enfraquecimento, são manifestações conjunturais que revelam problemas que não podem ser negligenciados.

E é justamente a partir do ensino, pesquisa e extensão, que esses desafios devem e estão sendo confrontados, não limitados a aspectos imediatistas, ou prático-utilitários de setores econômicos (como o agro-industrial) ou de desejos ou interesses políticos pessoais.

Comprometida com os processos de integração, e o destino de suas sociedades, a UNILA, criada pela Lei nº 12.189/2010, reconhece no diálogo a importância do desenvolvimento regional, e vem acreditando em Foz do Iguaçu como núcleo predestinado irradiador de conhecimento, dada sua importância geopolítica, econômica, turística e cultural.

As universidades públicas brasileiras, não obstantes terem desafios que são regionais, caracterizam-se por pensarem no país. Assim, estruturada como uma organização inovadora, bilíngue e interdisciplinar, a UNILA busca na diversidade de conhecimentos uma reflexão coletiva e a resolução de problemas que desafiam não apenas a região Oeste do Paraná, como justifica a Emenda Aditiva, mas ao país e a todo o continente latino-americano. Isso porque, nesse território fronteiriço, são materializados, nas interações cotidianas, intercâmbios culturais, científicos e educacionais, contribuindo ao processo de integração em nível regional.

Hoje, com alunos de dezessete países, nos mais de vinte e nove cursos de graduação, dois cursos de doutorado, oito cursos de mestrado e quatro cursos de especialização, a UNILA apresenta-se como um baluarte da internacionalização do ensino superior, tendência em todo o mundo. Regionalizá-la significa diminuir seu potencial, impedir processos de integração e desenvolvimento.

Ademais, a proposta de integração inerente à missão da UNILA corrobora com o artigo 4º da Constituição Federal. A Carta Magna estabelece que o País “buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina”. E é através do intercâmbio acadêmico e a cooperação solidária com países integrantes do MERCOSUL, e com os demais países da América Latina, que os cursos oferecidos são considerados estratégicos para o desenvolvimento e a integração regional.

A partir do desafio que nos é colocado – defender a UNILA – é pretensioso não reconhecermos no intercâmbio de conhecimentos uma ferramenta para o desenvolvimento sustentável não apenas da região Oeste do Paraná, mas do Brasil e de toda a América Latina, una e diversa.

Nós defensores do projeto UNILA, consideramo-nos pessoas privilegiadas, pois foi a partir dela, atraídos pelo desafio de construir coletivamente um espaço inovador, que nos envolvemos e descobrimos que a integração pode favorecer expressivamente não apenas uma determinada região ou um determino segmento da economia, mas nossas economias e nossas sociedades como um todo.

Hoje, com as ameaças da construção de uma “barreira física intransponível” na fronteira entre México e EUA, ou até mesmo de propostas de descaracterização do projeto de integração do MERCOSUL, faz-nos pensar que alternativas nos processos de integração existem e como auxiliariam no desenvolvimento nessas regiões.

A estas ameaças, a UNILA apresenta-se como necessária para realizar uma visão crítica e constante desses processos, analisando e corroborando com mudanças e estratégias.
Seguimos acreditando na velha máxima da integração e vamos além, construamos pontes para que muros não sejam apenas impensáveis, mas materialmente impossíveis. Defendamos as prerrogativas contidas no projeto em que ensejou a Unila, para que Emendas Aditivas, ou Medidas Provisórias estranhas, também não sejam apenas impensáveis, mas materialmente impossíveis.

Em tempos em que construir muros torna-se palavra de ordem, a Unila é uma porta que permite importantes passos para um mundo mais diverso e integrado.

Que juntos, façamos a diferença defendamos a integração regional, defendamos a Universidade Federal da Integração Latino-americana.