FIG plural e democrático é vitória do povo, diz Marcelino Granja 

“Houve muita pressão e agora ainda ocorre em função do tipo de programação e proposta do 27º Festival de Inverno de Garanhuns (FIG). É uma verdadeira luta ideológica. Na lógica do mercado seria um festival apenas com a Praça Mestre Dominguinhos e atrações de alto custo. É uma grande vitória política do povo quando o FIG é realizado como é, plural e democrático”, afirmou o secretário de Cultura de Pernambuco, Marcelino Granja, ao destacar a importância das políticas públicas na área cultural. 

FIG plural e democrático é vitória do povo, diz Marcelino Granja - Jan Ribeiro/Secult PE - Fundarpe

A avaliação de Marcelino foi feita durante o debate Políticas Culturais e Gestão Democrática no Brasil realizado domingo (23), no espaço Praça da Palavra Hermilo Borba Filho, do FIG. “Esta é uma discussão necessária para o nosso momento político, pois mostra que o Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), para além da capacidade de aglutinar e difundir a nossa diversidade cultural, pode ser também um espaço de reflexão sobre o atual retrocesso que passamos na Cultura no âmbito nacional, e de como podemos, com esperança e resistência, superar o golpe em curso. Fazer Cultura também nos mantém em resistência”, ressaltou o secretário.

Além de Marcelino Granja, participaram do bate-papo Sérgio Mamberti, ator e ex-secretário de Políticas Culturais do MinC; Roberto Peixe, ex-secretário de Cultura do Recife e ex-secretário de Articulação Institucional do MinC; Américo Córdula, ex-secretário da Diversidade Cultural do MinC; e a secretária executiva da Secult-PE, Silvana Meireles, que fez a mediação da mesa.

Cultura e Democracia

Na ocasião, foi lançado o livro Políticas Culturais e Gestão Democrática no Brasil organizado por Albino Rubim e editado pela Fundação Perseu Abramo. O livro reúne textos de Sérgio Mamberti, Roberto Peixe, Américo Córdula e mais 21 autores.

Natural de Garanhuns, Roberto Peixe (na foto abaixo à direita, com  Sérgio Mamberti) deu detalhes sobre a construção dessa obra coletiva, que traz toda a memória do processo de construção e execução das políticas culturais nos últimos 15 anos. “Este livro surgiu da ideia de se narrar e apresentar todo o processo histórico e que gerou várias experiências político-administrativas do campo cultural dos municípios, estados e depois a nível nacional. Quando fui convidado para participar surgiu, inicialmente, para mim um grande dilema, porque eu poderia dar um enfoque tanto na experiência do Recife, como colocar outra questão, que terminou prevalecendo, que foi o Sistema Nacional de Cultura. E a minha opção de falar sobre esse tema é exatamente pelo entendimento da importância estratégica do SNC para as construções das políticas culturais em todos os níveis de governo”, pontuou o ex-secretário do MinC.

Na sua intervenção, Américo Córdula destacou a conexão que tem com Hermilo Borba Filho, um dos homenageados do Festival deste ano e que dá nome à Praça da Palavra. “Meu pai morou no Recife e foi convidado na década de 70 pelo Hermilo Borba Filho para trabalhar na Universidade Federal de Pernambuco, que estava fundando o Teatro Popular do Nordeste (TPN), um espaço de resistência contra a ditadura militar. O Hermilo é um grande folclorista, escreveu muito sobre as manifestações tradicionais riquíssimas deste estado”, lembrou.

“Desde pequeno eu também tenho uma conexão, assim como o Hermilo tinha, com a cultura popular, e vou falar muito neste aspecto porque foi isso que me levou ao Ministério da Cultura. Quando Gilberto Gil assumiu o MinC, o ministro fez o programa Cultura Para Todos, que viajou pelo Brasil querendo escutar o que o povo precisava. E a gente fez a proposta de realizar um seminário nacional de políticas públicas pras culturas populares”, explicou Córdula.

Cultura e Resistência

“Viajamos por todo o Brasil realizando oficinas para os mestres da cultura popular, e a gente fazia três perguntas: O que você faz? Qual a importância da sua manifestação? E o que precisa ser feito para melhorar? E a gente levou 800 mestres da cultura popular para Brasília, muitos não tinham nem andando de avião na vida. Aquele 23 de fevereiro de 2005 ficou na história. Gilberto Gil ficou muito emocionado, e o encontro resultou na Carta das Culturas Populares e no primeiro edital de fomento à cultura popular, lançado pelo próprio Sérgio, que na época era secretário de Políticas Culturais do MinC”, revelou o consultor e ex-secretário da Diversidade Cultural do MinC, Américo Córdula.

Mamberti, por sua vez, disse enxergar a cultura como uma forma de resistência. “Os artistas brasileiros, particularmente, sempre tiveram um projeto neste sentido desde a Inconfidência Mineira, bem como no processo abolicionista, e na recente luta democrática contra o regime militar. A classe artística sempre esteve à frente, em especial o teatro, do qual eu faço perto, e que tinha um papel de liderança fundamental neste momento. Acreditávamos sempre no papel e na função social transformadora da cultura porque as grandes transformações sociais só acontecem através de um processo democrático e cultural”.

A mediadora Silvana Meireles avaliou que os estados e municípios devem desenvolver suas próprias ações. “A gente pode influir nessa gestão através dos Fóruns de Secretários Estaduais de Cultura e do Fórum Nacional dos Secretários de Cultura das Capitais e Regiões Metropolitanas. São espaços onde permanecemos vivos”, pontuou, para em seguida dar uma boa notícia. “Para terminarmos essa conversa pra cima, vou fazer um anúncio inédito aqui. O governador Paulo Câmara vai assinar a convocatória da nossa 4ª Conferência Estadual de Cultura, e em breve iremos realizar este rico encontro com as representações da cultura do nosso estado”.

Ao término do encontro, foram distribuídas gratuitamente 30 cópias do livro lançado durante o evento, autografadas por Sérgio Mamberti. O livro Políticas Culturais e Gestão Democrática no Brasil está disponível para download.

Audicéa Rodrigues, com informações da Secretaria de Cultura de Pernambuco (SecultPE).
Do Recife