"Para tentar me prejudicar, vão destruir o país"

Parecia uma manhã de domingo, a avenida Paulista fechada e ocupada por milhares de pessoas e vários grupos artísticos se apresentando, só que não. Na noite de quinta-feira (20), mais de 20.000 pessoas estavam lá em defesa da democracia brasileira e da soberania do seu povo. E não foi só em São Paulo. Em todo o país, o povo foi às ruas para defender a democracia, as Diretas Já e apoiar o ex-presidente Lula, condenado injustamente na semana passada.

ato1 - (acima) Guilherme Imbassahy, (abaixo) Nivaldo Santana

Lula foi o último a falar e disse que “hoje, ninguém tem autoridade neste país. Nós sabemos que o presidente não apita nada, que o Congresso está desacreditado, que os partidos políticos estão desgastados. Mas eles, a elite, querem me prejudicar. Se tiverem provas que roubei, que me desmoralizem! O que não pode é que para tentar me prejudicar, vão destruir o país. O que não pode é acabar com a Petrobras, com o Banco do Brasil, com a Caixa Econômica Federal, com o BNDES, com a educação, com milhões de empregos – tudo para tentar prejudicar o Lula”.

Antes dele, o deputado federal e presidente estadual do PCdoB, Orlando Silva, afirmou que as elites não aceitam a vontade do povo nas urnas e por isso deram um golpe. “Agora a defesa do estado democrático de direito, a defesa da democracia tem um nome, esse nome é Luiz Inácio Lula da Silva. O crime de Lula foi tirar milhões de brasileiros da pobreza, foi permitir que os trabalhadores e seus filhos pudessem entrar na universidade, foi fazer com que o salário mínimo fosse suficiente para que o trabalhador sustente com dignidade a sua família. O crime de Lula foi fazer nosso país ser respeitado em todo o mundo. Hoje, quando o golpista vai ao exterior nosso país passa vergonha”, afirmou sob aplausos.

Jamil Murad, presidente do PCdoB Paulistano, lembrou a história do partido. “Aos longos dos 95 anos de luta do PCdoB, tiramos a lição que nunca podemos baixar a cabeça e que temos que unir o povo em torno da causa do desenvolvimento, da liberdade, da democracia, do progresso econômico e social. Em torno dessas causas, temos que agregar os milhões de brasileiros que também a apoiam. Temos que mobilizar essa multidão de brasileiros e construir uma ampla frente popular em defesa da democracia”, disse.

Lula considera que o problema do Brasil não está nele, mas no golpe e no presidente que colocaram no lugar da Dilma. Ele considera que não é preciso se preocupar com o que está com ele, mas com o que está acontecendo com o país, com os milhões de brasileiros que perderam o emprego, com os jovens que estão nas ruas sem perspectiva de estudar nem de trabalhar, com o que pode acontecer com milhões de mulheres de homens que estão trabalhando e não têm perspectiva de se aposentar se for aprovada a reforma previdenciária.

Nessa linha falou Nivaldo Santana, representando a CTB: “Nós precisamos da democracia para acabar com o desmonte dos direitos trabalhistas, para defender a previdência pública, para enfrentar a maior recessão da nossa história que colocou 14 milhões de trabalhadores no desemprego. Defenderemos por todas as formas e com todos os meios o fim da perseguição política ao ex-presidente Lula. Nós da CTB consideramos que acabar com essa perseguição é parte integrante de uma luta fundamental que foi a conquista da democracia em nosso país”.

A presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Marianna Dias, disse que o povo ocupa as ruas do Brasil para dizer que não admitirá que a democracia seja abolida. “Ao longo de 80 anos, a UNE, a juventude brasileira, sempre esteve ao lado dos trabalhadores, ao lado da democracia brasileira. Lula foi condenado sem provas e de forma injusta. Não podemos deixar que isso fique assim. Aqui na avenida Paulista damos uma resposta a esse autoritarismo e combatemos a tentativa de construir um estado de exceção no Brasil”, destacou.

Lula considera que o Brasil só vai melhorar novamente quando tiver um governo que seja respeitado, que pense num país para o seu povo e não para meia dúzia de ricos. “O que incomoda a elite é saber que uma empregada doméstica tem carteira assina e um salário decente. É saber que essa empregada usa o mesmo perfume da patroa. É saber que um cara que trabalha de jardineiro pode comprar um carro. Que o trabalhador que recebe um salário mínimo tem aumento todo ano. Que o filho e a filha de um pedreiro pode ser engenheiro ou arquiteto. O que incomoda é que uma negra da periferia dispute uma vaga com o filho deles nas universidades que nós criamos. A elite deste país nunca gostou que pobre tivesse direito de estudar”, finalizou.

Gleisi Hoffmann, senadora e presidente nacional do PT, também concorda. Ela considera vergonhoso a fome rondar o lar dos brasileiros novamente, o crescimento das pessoas pedindo dinheiro nas ruas e pedindo comida nas portas de supermercado. “Em nome de quem o governo está fazendo isso? Dá classe dominante, que não tem projeto de nação!”, conclamou.