Moradores de rua têm suas barracas tomadas na Sé

Prefeitura de São Paulo toma atitudes desumanas com moradores da Praça da Sé na semana mais fria do ano, gerando dúvidas com relação aos seus programas de apoio e acolhimento às pessoas em situação de rua.

Por Alessandra Monterastelli*

moradores de rua

O Instituto Nacional de Meteorologia registrou na terça-feira (18) a tarde mais fria do ano até agora. A baixa temperatura causou a morte de dois moradores de rua. Em 2016 foram registradas 6 mortes de moradores de rua pelo mesmo motivo. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o padre Julio Lancellotti, da Pastoral de Rua, afirma que a procura por abrigos da Prefeitura aumentou, e que a operação de emergência da administração municipal ainda não atende toda a demanda.

A CBN reportou, na quarta-feira (19), que agentes de limpeza de uma companhia terceirizada contratada pela Prefeitura para fazer a limpeza de praças e vias públicas da cidade lançaram jatos de água próximo aos moradores que ainda estavam dormindo, pela manhã. Segundo a reportagem, eram 7h da manhã e o termômetro da Praça da Sé, na região central da capital paulista, marcava 12 graus. Os jatos eram direcionados nas calçadas: “Não dá nem tempo de levantar. Quando eles chegam, molham as coisas. Meu cobertor ficou encharcado. Sempre que isso acontece, a gente perde tudo”, disse um morador à CBN. Outros também afirmaram à repórter que a limpeza também acontece de madrugada, independente da temperatura e se tem alguém dormindo na calçada.

Após tais acontecimentos, segundo o portal Rede Brasil Atual, o prefeito João Doria foi hostilizado por moradores de rua no bairro Santa Cecília, na noite dessa quarta-feira (19), enquanto distribuía cobertores junto de sua equipe, em uma ação que combinou assistencialismo e marketing. Os moradores o teriam xingado de “pilantra” e “assassino”.

Apesar da Prefeitura anunciar a atividade do PEI (Programa Emergencial de Inverno) nos dias de temperatura mais baixa, que contaria, segundo as palavras do prefeito João Doria, com a distribuição de mais de mil cobertores para pessoas em situação de rua e também de meias, e da inauguração de uma nova unidade de acolhimento, na Zona Norte da cidade, os Jornalistas Livres publicaram em sua página no Facebook, na quarta-feira (19), um vídeo que mostra uma ação da Guarda Civil Metropolitana retirando barracas e pertences dos moradores de rua da Praça da Sé.

Na gravação, um grupo de agentes ronda a praça pela manhã, quando o termômetro marcava 7,9 graus, abordando moradores de rua para que retirassem suas barracas do local, proibido de ser ocupado naquele horário. O agente principal chega a ameaçar levar embora os pertences de um rapaz que estava dormindo; enquanto isso, outro morador de rua pedia para que os guardas devolvessem sua barraca, que já estava no caminhão: “Se o problema for esse a gente desmonta, não tem problema, mas devolve minha barraca moço”. O homem, diante do frio, ainda se queixou: “Minhas cobertas estão todas lá moço, e minhas comidas também. O que eu vou comer agora?”. O agente diz para ele ir na Prefeitura.

No final do vídeo, é possível ver os agentes desmontando uma barraca vazia e levando embora os cobertores e pertences dispostos dentro dela, sem o consentimento do provável dono ou aguardar seu retorno para avisá-lo.

No começo da gravação um dos guardas tenta acordar o rapaz deitado dentro da barraca e, quando ele demora para se levantar, comenta com outro agente: “Tá morto”. Quando o rapaz se mexe, ele diz: “Tá morto não, tá vivo”, mostrando como a situação, que é grave, é também algo comum do cotidiano.

Segundo a reportagem da CBN, alguns moradores reclamaram que as vans da administração municipal que transportam moradores para abrigos têm poucas vagas: uma fila teria se formado na noite de terça-feira (18), mas apenas 20 pessoas foram levadas.

É compreensível a responsabilidade da Prefeitura de organizar os locais públicos da cidade, mas é necessário que haja um mecanismo humano para tanto, respeitando os moradores de rua e garantindo alternativas para estes. Para além do PEI, é necessário que haja uma conscientização da situação dessas pessoas e um compromisso por parte da Prefeitura de cuidado e acolhimento, revertidos em políticas públicas efetivas que não violem em momento algum os direitos humanos dos moradores e moradoras de rua.

Confira o vídeo do Jornalistas Livres abaixo: