Os contrastes de Caravaggio: quatro séculos do pintor 

Caravaggio foi um pintor barroco, o melhor exemplar da pintura naturalista do início do século 17; morreu em 1610 aos 38 anos

Por Max Altman

Cupido Caravaggio

Michelangelo Merisi, conhecido como Caravaggio, pintor italiano, morre em 18 de julho de 1610, aos 38 anos em Porto Ercole. Sua obra poderosa e inovadora revolucionou a pintura do século 17 pelo caráter naturalista, realismo por vezes brutal, erotismo perturbador e o emprego da técnica claro-escuro que influenciou numerosos pintores cujo talento foi revelado depois de sua época.

Caravaggio foi um pintor barroco, o melhor exemplar da pintura naturalista do início do século 17. Utilizou modelos da classe mais baixa da sociedade em seus primeiros trabalhos e posteriormente nas composições religiosas em que apela ao gosto da Contra Reforma pelo realismo, simplicidade e compaixão na arte. Igualmente importante foi a introdução dos efeitos dramáticos do claro-escuro.

Ele levou uma vida dissoluta, rica em escândalos provocados por sua índole violenta de desordeiro – chegando até a matar durante uma briga –, a frequência habitual ao bas fond e às tavernas, bem como por sua sexualidade escandalosa para a época, o que lhe acarretou inúmeros problemas com a justiça, a Igreja e o poder. Encontrou em sua arte, uma espécie de "redenção de todas as torpezas". No entanto foi necessário esperar o começo do século 20 para que seu gênio fosse plenamente reconhecido, independente da reputação corrosiva.

O pintor nasceu em 28 de setembro de 1573, na montanhosa cidade da Lombardia, Caravaggio. Levou quatro anos como aprendiz no ateliê de Simone Peterzano em Milão, antes de ir a Roma em 1593, onde passou a auxiliar o pintor Giuseppe Cesari, para quem pintou quadros de frutas e flores. Entre os seus trabalhos iniciais mais conhecidos estão cenas da vida cotidiana, por exemplo, Os Músicos (1591?-1592, Metropolitan Museum, Nova York) ou A Vidente (1594, versões no Louvre, Paris, e no Museo Capitolino, Roma) quadros de grande apelo aos seguidores do artista.

O estilo da maturidade de Caravaggio começou por volta de 1600 com a encomenda para decorar a Capela Contarelli em San Luigi dei Francesi em Roma com três cenas da vida de São Mateus. O Chamado de São Mateus (1599? -1600) é notável por seu dramático uso da “luz de sótão”, que emana de uma fonte acima da ação a fim de iluminar o gesto de mão de Cristo (baseado no Adão de Michelangelo na Capela Sistina) e outras figuras, a maioria das quais com roupas contemporâneas. Por volta de 1601, Caravaggio recebeu seu segundo grande encargo da igreja Santa Maria del Popolo em Roma para a Conversão de São Paulo e A Crucificação de São Pedro.

Acusado de assassinato, Caravaggio fugiu para Nápoles em 1606. Ali passou vários meses executando obras como O Flagelo de Cristo (San Domenico Maggiore, Nápoles), cruciais para o desenvolvimento do naturtalismo. Nesse mesmo ano viajou para Malta, foi feito cavaliere, da Ordem Maltesa, tendo executado um de seus poucos retratos, o do cavaliere Alof de Wignacourt (1608, Museu do Louvre). Em outubro de 1608, foi novamente preso. Escapando da prisão, viajou para Siracusa na Sicília, onde pintou diversas telas monumentais, inclusive O Enterro de Santa Lúcia (1608, Santa Lucia, Siracusa) e A Ressurreição de Lázaro (1609, Museo Nazionale, Messina). Eram composições com múltiplas figuras envoltas em um grande drama, produzidas com tonalidades escuras e uso seletivo de luz.

A despeito de declarações que a natureza era sua única mestra, é evidente que Caravaggio estudou e assimilou os estilos de mestres da Alta Renascença, em especial o de Michelangelo.

O impacto de Caravaggio na arte de seu século foi considerável. O impressionante é que quatro séculos após sua morte, em 2010, a Galeria Palatina dentro do Palácio Pitti, Florença, apresentou uma exposição excepcional de suas obras. O pintor que fascinou os Médicis, incluiu personagens do bas-fond à nobreza, imortalizando-os em suas telas sobre um fundo neutro, cor lisa, sem exagero nas luzes, nada de decoração, de ação, um culto e uma extrema precisão nos detalhes.