Na seca somali, mulheres lutam contra estupradores e com a fome

Com mais de um terço da população da Somália passando fome, novas estatísticas mostram também que as mulheres somalis tem alto risco de serem estupradas.

Por Alecia Richards

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Os casos identificados de estupro e violência sexual nas áreas afetadas pela seca estão crescendo, o que a UNICEF considera uma nova consequência da crise.

A Organização das Nações Unidas (ONU) está oficialmente chamando a crise somali de “maior crise humanitária desde a 2ª guerra mundial”.

Entre novembro e março a UNICEF e parceiros detectaram cerca de 300 casos de estupro e violência contra a mulher em média a cada mês. Em junho, entretanto, o número triplicou com 909 casos identificados. Até agora é o maior número de casos identificados em um mês em 2017.

“A violência baseada no gênero era um problema antes da seca da Somália mas nós vemos agora que a seca fez aumentar esse problema” diz Jean Lokenga, presidente da Proteção de crianças da UNICEF na Somália.

Muitas pessoas na Somália foram desabrigadas devido à seca e forçadas a procurar por comida e recursos em outros locais para sobreviver. No último mês de novembro o número de desabrigados no país era mais de 700 mil pessoas.

As vítimas normalmente são estupradas enquanto procuram por comida

De acordo com Lokenga, isso significa que as mulheres viajam longas distâncias para encontrar comida em cidades como Mogadishu ou Baidoa. E isso as faz vulneráveis à violência de gênero.
"Há uma grande variedade de criminosos", diz Lokenga. "Alguns deles são membros da comunidade, infelizmente. Mas além de membros da comunidade, há indivíduos de outros países que utilizam armas nas fronteiras, pontos onde não há polícia.

O número de violência sexual e estupro identificados não mostra todos os casos que acontecem no pais. De acordo com a UNICEF esses casos reportados correspondem a mulheres que puderam ter ajuda médica ou outra assistência.

“É preciso tratar os casos de violência de gênero de uma forma que encoraje as mulheres a continuar identificando casos” diz Lokenga

Mas esses casos não ocorrem apenas na Somália. O Comitê Internacional de Resgate recentemente publicou um relatório que mostra a relação entre secas prolongadas e a violência no norte do Quênia também.

A violência sexual também cresce no norte do Quênia

Junto com a crescente incidência de violência de gênero no norte do Quênia, há um crescente número de mulheres e meninas envolvidas na prostituição

“Desde a seca que vimos, aumentou a prostituição entre mulheres e meninas como forma de sobrevivência” diz Mercy Lwambi, gerente do Comite Internacional de salvamento (IRC).

O IRC está trabalhando para diminuir a violência. Durante uma noite de fevereiro, Lwambi e os integrantes do IRC do norte do Quênia encontraram 320 prostitutas em uma pequena área. Ela disse que essa grande quantia de funcionárias do sexo tem a ver com a seca e a insegurança de não ter comida. Essa situação afeta 2.6 milhões de pessoas na região.

Lwambi achou até mesmo meninas de 9 anos de idade que eram prostitutas para obter comida para elas e suas famílias. "Algumas das meninas são marginalizadas, e não estudaram. Achamos que o principal responsável é o chefe da família. Elas precisam comer, precisam viver, precisam enviar comida para a casa, então a maioria delas se dedica a prostituição ", diz Lwambi.

Algumas garotas aceitam até 50 xelins (50 centavos de dólares) pelo sexo mas muitas vezes, diz Lwambi, porque essas garotas são muito jovens, os clientes não pagam como prometido e chegam a bater nelas quando elas pedem o pagamento.

A prostituição e a violência sexual só aumentaram. Entre 2010 e 2012. A fome na Somália matou cerca de 258 mil pessoas, de acordo com o relatório conjunto das Nações Unidas e da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional.