Base aliada sinaliza que pretende esvaziar plenário para salvar Temer

Na votação da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, nesta quinta-feira (13), o governo manobrou para trocar 19 de seus 66 membros, substituindo por parlamentares pró-Temer, e assim garantir a rejeição da denúncia contra o presidente por crime de responsabilidade.

Por Dayane Santos




Michel Temer - Beto Barata/PR

Além de tentar demonstrar que tem força – coisa que a própria votação da CCJ revelou o contrário, já que para rejeitar usou manobras e verbas de emendas parlamentares – o governo sinaliza que vai tentar esvaziar a votação em plenário. O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse nesta sexta-feira (14), que o governo não está preocupado com o quórum para votar a denúncia contra Temer.

Segundo Padilha, é a oposição que precisa de pelo menos 342 deputados para a votação. "O governo não tem mais preocupação em colocar quórum. Quem tem preocupação é quem quer que seja colocada a denúncia. Logo, a oposição”, afirmou Padilha, que despertou, com a declaração, especulações na oposição de que o governo pode manobrar para que a votação da denúncia seja adiada indefinidamente.

Essa estratégia já havia sido cogitada pela base aliada do governo em junho, antes da denúncia chegar à CCJ. De acordo com a Constituição, a denúncia só pode ser transformada em processo no Supremo Tribunal Federal com a autorização, ou seja, o voto de pelo menos 342 dos 513 deputados.

Isso significa que Temer necessita ter ao menos 172 deputados ao seu lado, mas não necessariamente do voto desses parlamentares, ou seja, é a oposição que precisa garantir que 342 deputados votem pela admissibilidade.

Por se tratar de votação nominal, isto é, cada deputado será chamado para declarar o seu voto no microfone, o voto em favor do governo iria causar constrangimento diante da forte rejeição popular e da própria denúncia de corrupção.

No impeachment da presidenta Dilma Rousseff, o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ameaçou os deputados faltosos de fazer sucessivas chamadas na sessão realizada em um domingo, com transmissão ao vivo para todo o país. Como a chamada não é obrigatória, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que é aliado de Temer, não deve utilizar esse instrumento.

A ideia de não comparecer parece confortável para alguns parlamentares, pois acreditam que não irão sofrerão com o desgaste político e eleitoral de ir ao microfone do plenário votar contra o prosseguimento das investigações.

O governo tenta convencer os parlamentares de que a população não vai perceber que a ausência é a mesma coisa de votar a favor de Temer.

A líder do PCdoB na comunista na Câmara, deputada Alice Portugal (BA), ressaltou que diante desse quadro a mobilização popular ganha ainda mais importância.

“Agora é hora de o povo se manifestar. Aproveitar o recesso e ir aos aeroportos, falar com seus deputados, recebê-los nas suas cidades e perguntar se eles vão votar a favor do povo brasileiro, da ética, ou se vão blindar Michel Temer”, enfatizou a líder.

Poucos dias antes da votação, a tática governista era de acelerar a votação. Agora, Rodrigo Maia endossa o coro do governo e diz que a votação do parecer só poderá ocorrer com o mínimo de 342 parlamentares em Plenário.