CNS pede formalização do uso de recursos liberados para saúde

Nesta quinta-feira (13) o Ministério da Saúde anunciou a liberação de R$ 1,7 bilhão de recursos federais aos municípios para saúde. De acordo com o governo, esses recursos devem custear o SUS e serviços e ações na Atenção Básica, como equipes de saúde da família, consultórios na rua, agentes comunitários de saúde, aquisição de veículos para atendimento de pacientes, entre outros.

Ronald Ferreira dos Santos ex-presidente do CNS

Diante da notícia, o presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Ronald Ferreira dos Santos, divulgou nota mostrando preocupação em relação à “garantia de que as necessidades de saúde da população que estão sendo atendidas com tais recursos estejam priorizando uma mudança do modelo de atenção em que a rede de serviços de saúde esteja organizada a partir do fortalecimento da atenção básica”.

Confira abaixo a nota na íntegra:

NOTA DO CNS

Sobre o importante anúncio de repasse bilionário de recursos fundo a fundo para os municípios: mas, “e agora José?” Qual é o critério de rateio?

O Conselho Nacional de Saúde parabeniza o Ministério da Saúde pelo anúncio do repasse bilionário de recursos SUS – R$ 1,7 bilhão – para os municípios (disponível em http://www.conasems.org.br/ministerio-da-saude-anuncia-liberacao-de-17-bilhoes-em-recursos-para-os-municipios/). Mesmo que tais recursos estejam destinados para serviços já habilitados (que aguardavam apenas a publicação), como já ocorreu em outras oportunidades, a formalização dos recursos a serem transferidos para estados, Distrito Federal e municípios é muito importante para que o atendimento das necessidades de saúde da população nas unidades de saúde pública instaladas pelo Brasil. Mas, é isso que nos preocupa, qual é a garantia de que as necessidades de saúde da população que estão sendo atendidas com tais recursos estejam priorizando uma mudança do modelo de atenção em que a rede de serviços de saúde esteja organizada a partir do fortalecimento da atenção básica, conforme tem insistentemente preconizado o Conselho Nacional de Saúde, com base nas diretrizes estabelecidas na 15ª Conferência Nacional de Saúde realizada no final de 2015?

O CNS não está contra a liberação de recursos federais do SUS para os municípios, muito pelo contrário, exige sim mais recursos para esse fim com critérios de rateio, pactuados na Comissão Intergestores Tripartite para análise e deliberação do CNS, em respeito à Lei Complementar 141, mediante a transferência regular e automática de recursos na modalidade fundo a fundo que permita a mudança do modelo de atenção baseado no fortalecimento das ações de atenção básica, bem como de outras recomendações e resoluções recentemente deliberadas pelo CNS.

Preocupa bastante a conotação política que está sendo dada a essa liberação, considerando o atual contexto de crise institucional vigente no país, quando tais recursos deveriam ser repassados como decorrência de uma política de Estado, de forma transparente, previsível, estável e regular tal qual ocorre em relação aos Poderes Legislativo e Judiciário e ao Ministério Público. A governança do SUS não pode ficar dependente da vontade política dos gestores que estiverem no comando do governo federal, o que tem deixado os secretários estaduais e municipais de saúde com o “chapéu na mão” em busca de recursos.

Por isso, urge a pactuação dos novos critérios de rateio na CIT e encaminhamento para a análise e deliberação do CNS, espaço constitucional e legalmente para esse debate que envolve não somente os gestores (como a CIT), mas também os usuários e os trabalhadores do SUS. É preciso romper com essa lógica do “toma lá, da cá” que reina na política brasileira, superando a lógica da cobrança de lealdades políticas que frustram o princípio da continuidade dos serviços de saúde de acesso universal e gratuito para a população. Do contrário, a redução de recursos decorrente da Emenda Constitucional 95/2016 a partir de 2018 somente agravará esse cenário, acelerando o processo de desmonte do SUS.

Brasilia, 14 de julho de 2017

Ronald Ferreira dos Santos
Presidente do CNS