Temer celebra resultado na CCJ, mas recua da votação em plenário

A vitória fabricada pelo governo para rejeitar a denúncia por corrupção passiva contra Michel Temer, com liberação de emendas parlamentares e a substituição de 19 dos 66 integrantes da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), mostrou o modus operandi do golpe contra a democracia. O governo conseguiu a rejeição da admissibilidade da acusação por corrupção passiva, mas ainda não tem força para barrar a denúncia em plenário.

Por Dayane Santos

CCJ da Câmara denuncia Temer - Lula Marques/Agência PT

“Trata-se de uma maioria de mais de 70% dos votos. O presidente recebeu esta notícia com a tranquilidade de quem confia nas instituições brasileiras. O resultado hoje alcançado deixa claro que é sólida a maioria dos que defendem a democracia, os direitos constitucionais e o Estado de Direito”, disse o porta-voz da presidência da República, Alexandre Parola, após o resultado da votação na CCJ.

O líder do governo no Congresso, André Moura (PSC-SE), também estava soltando fogos. Disse que foi um resultado importante e que agora o governo não tem pressa de votar a matéria no plenário, em que o governo espera não ter 342 votos favoráveis à denúncia,

Moura disse ainda que Temer "estava satisfeito e feliz" e ainda tentou vender o peixe de que o resultado era uma demonstração de que a base do governo foi recomposta. "Mostra uma consolidação da base. Foi uma vitória maiúscula", disse.

No entanto, a tal "recomposição" está longe de acontecer, a começar pelo seu principal aliado, o PSDB. Na CCJ, o líder tucano libertou os votos dos parlamentares e a bancada na Câmara j[á deixou claro que, no plenário, o voto será pela admissibilidade da denúncia.

Temer já começou a retribuir os cargos ocupados pelos tucanos, principalmente dos ministérios das Cidades e a Secretaria de Governo. Na lista de beneficiados estão parlamentares do PP, PR e PSD, chamados de centrão.

Já o DEM, partido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), e também aliado de Temer no golpe, ainda não se posicionou.

Enquanto isso, setores empresariais que foram os fiadores e financiadores do golpe, também se manifestaram para pedir pedindo pressa aos parlamentares. A Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil e pela União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços, disseram que "o país precisa crescer" e dizem que “no momento em que os indicadores econômicos começam a se descolar da crise, não podemos retardar uma decisão tão importante”.

A nota enviada aos parlamentares contradiz os dados divulgados nesta sexta-feira (14) pelo Banco Central, que apontam que a economia afundou 0,5% em maio, quando a aposta era de crescimento na mesma proporção. Ou seja: o golpe, que começou a ser preparado em 2015, e já retirou cerca de 10% do PIB nacional, continua destruindo riquezas no Brasil.

A nota também destaca que justamente o setor de serviços brasileiro reduziu com força o ritmo de crescimento em maio, ficando praticamente estável e abaixo do esperado.

O governo, que antes do resultado na CCJ tinha pressa em votar a denúncia em plenário, mudou o discurso. Com votação prevista inicialmente para a próxima semana, os aliados do governo decidiram recuar e falam em votação para o começo de agosto, após o recesso.

O recuo estratégico é para alinhar as negociações e tentar garantir a formação de um quórum de 342 no plenário. A preocupação é que até lá, outras duas denúncias por corrupção passiva devem ser apresentadas contra Temer, além das especulações em torno de uma possível delação do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), seu principal aliado no golpe.