Pochmann aponta “contaminação política” no julgamento de Moro

Para o economista Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo, há “contaminação política do julgamento” de Sérgio Moro, que condenou, na primeira instância, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a nove anos e seis meses de prisão. Sobre a divulgação, pela mídia tradicional, de que a decisão do magistrado teria gerado “euforia” no “mercado”, ele disse não ver tal reação. Segundo ele, a avaliação é “forçada”.

Sérgio Moro

“Havia a expectativa de que o juiz Moro de fato condenasse Lula, mesmo diante da ausência de provas cabais, porque há inexoravelmente uma contaminação política do julgamento. Isso foi verificado em várias etapas, desde as audiências até a ausência de provas”, disse, ao Vermelho.

O economista, que presidiu o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) durante as gestões do PT, avaliou que a condenação deverá ser revista na segunda instância, assim como aconteceu com o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. “Nós já verificamos uma decisão do TRF da 4ª Região, em relação ao ex-tesoureiro do PT, de que decisão judicial sem provas não teria validade. Entendo que uma decisão que possa destoar do caráter político do julgamento do juiz Moro será dada na próxima etapa, quando a 4ª Região se posicionar”, avaliou.

Questionado se o julgamento de Moro estaria relacionado às eleições de 2018, como apontaram diversos aliados do ex-presidente Lula, o economista respondeu não ter dúvidas que de que “todo o processo da Lava Jato é, de certa maneira, uma radical orientação de julgamento à forma como o país foi conduzido de forma democrática desde as eleições de 2002”.

“Há um julgamento à forma de constituição do governo, à forma de atuação das empresas estatais, ao vigor das grandes empresas privadas nacionais, de tal forma que a Lava Jato de certa maneira faz um julgamento do governo. Tanto é que o próprio juiz Moro terminou sempre encontrando questionamentos fundamentalmente à atuação do PT. O questionamento de decisões de outros partidos, de maneira geral, não veio da Lava Jato. Infelizmente temos uma contaminação da Justiça brasileira, que passa a ter posição político-partidária, e isso obviamente tem implicações no processo político-eleitoral”, analisou.

Diversos sites noticiaram, nesta quarta, que a condenação de Lula teria gerado “euforia” no mercado financeiro, sendo responsável por fazer “disparar” a Bovespa e “despencar” o dólar. Pochmann, contudo, disse não ver ligação entre a posição de Moro e o câmbio e a bolsa.

“Se olharmos a trajetória da Bolsa de Valores e a evolução do dólar, não há nada de anormal. O comportamento da bolsa de crescimento em 1% houve em outros momentos. Acho que está sendo forçada uma avaliação de que há uma vinculação do mercado com as decisões de Moro. E mesmo o comportamento do dólar não me parece anormal. Não houve valorização drástica do Real nem subida surpreendente da bolsa”, disse.