Gleisi: "A cabeça dos senhores é escravocrata; votam contra o povo"

No discurso durante a votação da reforma trabalhista, a senadora Gleisi Hoffmann foi dura com os governistas. Ao chamar de “vergonha” a votação açodada de matéria tão impopular, ela afirmou que os parlamentares – em grande parte empresários – agem em defesa de seus próprios interesses, e não em favor do povo brasileiro. “A cabeça dos senhores é escravocrata. Não importa a dor do outro, a fome”, disse.

Gleisi destaca exemplo de outros países contra PEC que congela gastos - Agência Senado

De acordo com ela, os senadores aliados ao governo impediram que a reforma trabalhista, que retira direitos especialmente da parcela mais vulnerável da sociedade, fosse discutida à exaustão, como deveria ser. “Os senhores estão retirando direito do povo pobre brasileiro, de quem ganha um salário, dois salários, que faz serviço terceirizado, das mulheres que estão grávidas e precisam de um lugar decente para trabalhar, das lactantes. Os senhores estão rasgando a CLT e achando que isso é bonito e moderno”, criticou.

Para ela, a ausência de discussão aprofundada do tema repete o que ocorreu com a Emenda Constitucional 95, que estabeleceu um teto para os gastos públicos, com efeitos perversos sobre a economia. “Por que esse país está parando? Porque os senhores votaram para congelar investimento e cortar gastos sociais. Os senhores têm que responder à nação por que o Farmácia Popular não está funcionando, por que não temos dinheiro para o Bolsa Família, por que as pessoas estão voltando a ter fome nesse país. É uma vergonha”, disparou.

Segundo a senadora, a reforma fará com que o trabalhador pobre possa ganhar menos que um salário mínimo. “Os senhores são do andar de cima da sociedade. A maioria é empresário e, se não é, é da aristocracia do serviço público. Quantos aqui passaram fome na vida? Quantos precisaram recorrer à Justiça do Trabalho para ter um único direito? Vocês não precisam. A maioria é bem-nascido aqui, tem dinheiro. O que ganha uma pessoa do bolsa família muitos gastam num almoço aqui. Mas não há solidariedade e empatia com o povo”, condenou.

Gleisi afirmou que a classe dominante do Brasil não tem projeto para o país. “Quando a coisa aperta, tiram do mais pobres. Quando há crise na economia, vocês disputam recursos do orçamento, para que paguem apenas os serviços financeiros da dívida desse país, tiram do Bolsa Família”, declarou.

A senadora apontou ainda uma troca de emendas parlamentares por apoio ao presidente Michel Temer, que tenta barrar na Câmara a denúncia de corrupção passiva que pesa contra ele. “Ao mesmo tempo estão pagando emenda na câmara para não deporem um presidente de quinta categoria, que fez um golpe. Um presidente que responde a denúncias e acusações, que não tem força política e terceiriza a administração ao ministro da Fazenda, que entrega ao sistema financeiro a riqueza do povo”, disse.

Em seu discurso, Gleisi disse ainda que os senadores votam olhando para o próprio umbigo, ignorando as necessidades dos brasileiros: Vocês querem que o trabalhador trabalhe mais e ganhe menos, para que o lucro seja maior. Que o orçamento público sirva apenas para pagar o serviço financeiro da dívida. É a política do mercado, dos mais ricos. Por que não votam aqui um tributo para lucros e dividendos? A taxação das grandes fortunas? Porque vai atingir os senhores. Vai atingir aqueles que ganham dinheiro há 500 anos nesse pais, em cima da miséria do povo brasileiro. A cabeça dos senhores é escravocrata”.

Para a senadora, contudo, caso a reforma seja de fato aprovada, o povo dará a resposta nas urnas, votando contra os parlamentares que apoiaram a retirada de direitos dos trabalhadores. “Deixar o povo morre de fome é vergonhoso. Vocês vão entrar para a história como aqueles que deram o golpe e deixaram o povo morrer de fome”.