Morre a professora Ecléa Bosi, aos 80 anos

Ecléa Bosi declarou, em uma entrevista de 2012, que considerava o “enraizamento”, em um espaço ou em uma comunidade, um direito humano fundamental. “O desenraizamento a que nos obriga a vida moderna é uma condição desagregadora da memória”, afirmou a psicóloga e escritora, que morreu nesta segunda-feira (10), aos 80 anos, em consequência de um ataque cardíaco.

Ecléa Bosi - Divulgação/USP

A Reitoria da Universidade de São Paulo (USP) decretou três dias de luto oficial. Foi ali que Ecléa graduou-se em Psicologia em 1966, com mestrado e doutorado em Psicologia Social na mesma instituição. Era professora emérita da USP.

A pensadora escreveu, entre outras obras, Memória e Sociedade – Lembranças de Velhos (1994), livro relançado neste ano e considerado fundamental para a compreensão da formação operária brasileira. A esse respeito, o professor Paulo Sérgio Pinheiro afirmou que se trata de “um manancial de ensinamentos sobre a participação política e o mundo do trabalho no Brasil”, com história do dia a dia dos imigrantes, dos operários e dos trabalhadores domésticos.

Em outra entrevista, de 2014, se destaca a atenção de Ecléa para “grupos sociais fragilizados”, como pobres, trabalhadores de baixa renda e idosos. Ela foi idealizadora do projeto Universidade Aberta à Terceira Idade, que segundo a USP atende anualmente a 9 mil pessoas com mais de 60 anos.

“Certa vez, Ecléa me presenteou com um livro chamado A Firmeza Permanente. Eu quero, aqui, falar do traço mais marcante de Ecléa: a coerência permanente, uma voz tensa como um sino que repica alegremente para, de súbito, soar com a gravidade de um dobre prolongado do qual, de repente, salta uma nova nota, uma badalada cheia de esperança”, diz a filósofa Marilena Chaui, em texto em homenagem à psicóloga escrito em 2008. Ela cita um trecho do livro sobre as leituras de operárias: “Assumir uma visão operária do mundo é um exercício difícil, um limite que tentamos alcançar, um caminho a percorrer”.

Segundo ela, o paulistano é um “migrante urbano”, lembrando que ela mesma mudou várias vezes de casa. Em todas, plantou um pomar. “A vida é um pouco isso, plantar árvores frutíferas, pedindo a Deus que alguém esteja lá depois saboreando os frutos.”

A professora era casada com o crítico e historiador Alfredo Bosi. Deixou dois filhos, os também professores Viviana e José Alfredo, e dois netos.