O Globo apresenta João Doria como o anti-Lula de 2018

As Organizações Globo têm um histórico extenso de intervenções, pela direita, na política brasileira. 
 
Por José Carlos Ruy*

   

João Doria
O Globo participou ativamente na conspiração que levou ao suicídio de Getúlio Vargas, em 1954; foi linha de frente no golpe contra João Goulart, que depôs o presidente e levou à ditadura militar de 1964; apoiou ativamente os governos dos generais. Nos estertores da ditadura, tentou sabotar a campanha das Diretas Já, em 1984, escondendo-a do público em seus noticiários. Depois defendeu a candidatura do aventureiro neoliberal Fernando Collor de Mello, em 1989, e manipulou imagens do debate político entre ele e o candidato da esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva, para garantir a vitória de seu candidato na eleição presidencial daquele ano. Recentemente foi uma das principais artífices da conspiração contra Dilma Rousseff, e montou o cenário para seu afastamento da Presidência da República no golpe de 2016, que levou o usurpador Michel Temer ao governo e, desde então, infelicita o país.

A Globo não para e, como autêntico partido da direita, encontrou seu anti-Lula para 2018, e o apresenta ao país com pompa e circunstância: o prefeito paulistano João Doria, que se torna o novo queridinho da mídia.

Neste sábado (1º) o diário carioca apresentou Doria ao Brasil em nada menos que cinco páginas (!).

É o novo campeão da iniciativa privada, do neoliberalismo mais desbragado, mostrado como aquele que não tem medo dos “istas”.

O pretexto foi a participação do prefeito no seminário “E Agora, Brasil?” promovido no Rio de Janeiro pelo jornal O Globo, em parceria com a Confederação Nacional do Comércio e apoio do Banco Modal.

Dória emerge daquela maçaroca de informações tendenciosas – mais própria da propaganda de um candidato do que do legítimo jornalismo informativo – como um gestor apolítico, dentro do figurino preferencial da direita que quer gerentes para a política e não líderes capazes de disputar a gestão pública de maneira democrática.

É um gestor que defende sua ação preferencial a favor do capital (“sou um grande incentivador do capital. O capital gera emprego, oportunidades e atividade empreendedora”, disse). Defende o uso de dinheiro de empresas em campanhas eleitorais (fonte da corrupção que assola as eleições). Confunde o combate à burocracia com ação social (“O fim das amarras para empreender é um dos anseios da periferia”). E rejeita a pressão de “petistas e especialistas”.

É claro, Doria defendeu também as ações truculentas de sua gestão na Cracolândia, onde investiu contra gente pobre e carente a pretexto de combater criminosos e o tráfico. E libera aquela área em localização privilegiada para a ganância imobiliária.

Suas palavras são música para os neoliberais e a especulação financeira. Privatizar é a palavra de ordem de seu governo. Para ele, o “país não precisa de dois bancos públicos”, como a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil. “Um deve ser vendido”, defende. E quer privatizar também, gradualmente, a Petrobras. Sanha privatista que coloca em prática em São Paulo, onde quer passar para o capital privado parques, terrenos e outros próprios municipais, entre eles o Estádio do Pacaembu e o Autódromo de Interlagos.

Tudo isso dentro de ideias previsíveis – defende o Estado mínimo, afastado da economia, que é deixada à ação do chamado “mercado” e do capital. “Se tiver o setor privado para fazer, melhor”, diz ele entoando outro mantra que encanta banqueiros e capitalistas.

Naquilo que interessa mesmo a seus pares – nunca é demais lembrar que ele próprio é um grande empresário – Doria tergiversa em relação à candidatura presidencial em 2018. Diz que a definição da candidatura de um anti-Lula deve ocorrer até o mês de dezembro, declara-se fiel ao tucano Geraldo Alckmin, mas sugere que poderá ser candidato. “Não sou candidato a nada”, diz. Mas se declara contra a reeleição e se proclama radicalmente antipetista – isto é, contra uma candidatura de esquerda.

O entusiasmo que sua eventual candidatura causa foi resumido por uma frase do banqueiro Cristiano Ayres, diretor do Banco Modal, um dos promotores do seminário. “O país precisa de pessoas, sejam políticos ou não, focadas em gestão. É um debate fundamental.” Frase que foi destacada pelos editores de O Globo e que resume aquilo que a direita espera de um presidente a ser eleito em 2018: um gestor apolítico, neoliberal e abertamente favorável ao grande capital. É o candidato ideal da direita.