Penélope Toledo: Por que o feminismo te incomoda tanto? 

“O machismo é o medo dos homens das mulheres sem medo.”
(Eduardo Galeano)

“Feminazis”, “mal-amadas”, “vitimistas”, “suvaco cabeludo”, “cheias de mimimi”, “vão lavar louça” etc etc etc. Por que será que mulheres lutarem por direitos e pela equidade de gênero, na arquibancada e fora dela, incomoda tanto???

Coralinas torcida feminina - Divulgação

Nas últimas semanas as meninas do movimento Coralinas, torcedoras do Santa Cruz-PE, foram alvo de raivosos ataques masculinos. Publicações fortemente grosseiras e machistas circularam nas redes sociais e após muitas denúncias de mulheres do Brasil inteiro, o conteúdo foi retirado do ar por ser considerado preconceituoso e incitar o ódio.

O que as tricolores pernambucanas fizeram para despertar assim a ira masculina? Lutam por espaço nas arquibancadas, desenvolvem uma campanha de combate ao assédio nos estádios, cobram da diretoria do clube mais representatividade de mulher e respeito ao futebol feminino, exigem o fornecimento de produtos do Santa Cruz para as torcedoras, fazem ações educativas contra a violência de gênero e melhoria na estrutura.

Ofensiva assim também sofreram várias participantes do 1º Encontro Nacional de Mulheres de Arquibancada quando divulgavam o evento – eu, inclusive. Como também sofreu a nadadora Joanna Maranhão, assumidamente feminista. Chegaram ao cúmulo de dizer que ela deveria ser estuprada de novo.

Por que o feminismo incomoda?

Os homens que se opõem aos direitos femininos poderiam simplesmente ignorar a nossa luta. Mas ao contrário, se dão ao trabalho de ir até as páginas para xingar, canalizam o seu tempo pensando formas de desmerecer, fazem questão de vomitar seus preconceitos e ofensas, mesmo sem serem perguntados.

É o medo, inconsciente ou não, de que as mulheres se empoderem, conheçam e façam valer os seus direitos, recusem os privilégios masculinos, não aceitem mais serem diminuídas moralmente, dividam as arquibancadas meio a meio, se destaquem pelo conhecimento sobre futebol, denunciem os assédios, liderem as torcidas com mais competência que muitos homens, descubram o quão forte são, sobretudo unidas.

Sim, o feminismo assusta também pela compreensão deturpada que muitos têm dele e pelo radicalismo com que algumas mulheres travam sua luta. Entendam: feminismo não é machismo às avessas, não é supremacia feminina, não é inverter os papeis e mulher oprimir homem. O nome disto é femismo. Feminismo é a equidade de direitos, isto é, a igualdade de garantias, valorizando as diferenças – físicas, biológicas, das subjetividades.

Informação faz bem, portanto, o desconhecimento do feminismo não é justificativa para a sua negação – seja de homens ou de mulheres. Como a necessidade de afirmação da frágil masculinidade de muitos também não legitima a opressão contra a mulher. Para isto existem os livros, no primeiro caso, e analistas para o segundo.

Incomodando-te ou não, a nossa luta prossegue

O que os machistas que vão até as páginas dos movimentos de torcedoras para nos atacar não percebem é que lá no alto de sua misoginia, o foco é sempre a mulher, nunca o homem.

É por causa da mulher que se dão ao trabalho de inventar asneiras, é à mulher que direcionam suas ações e pensamento, é para chamar a atenção de nós, mulheres, que insistem em tentar nos ofender. Coitados, se soubessem que o primeiro passo para o empoderamento é não se abalar com a opinião masculina, se poupariam de ficar se debatendo desesperadamente feito náufragos.

E assim a nossa luta prossegue. Estamos cada vez mais convictas da urgência de derrotar o machismo, cada vez mais orgulhosas dos nossos movimentos de torcedoras, cada vez mais unidas. Porque a necessidade de defendermos umas às outras acaba fortalecendo a sororidade.

Obrigada, machistas, por nos unir mais e mais.