Temer quer enfraquecer a Caixa e abrir espaço aos bancos privados

Ataque do governo à Caixa tem significado 10 mil funcionários a menos, um plano de fechamento de mais de 300 agências, privatização de setores e suspensão de linhas de financiamento. Ruim para a população, pior para a economia.

Privatização da caixa - CTB

Instituições com atuação fundamental na economia, os bancos públicos são alvo de uma política que visa desvalorizá-los, desde os primeiros dias do governo Michel Temer. Na Caixa, o desmonte se traduz na redução do número de funcionários, diminuição da rede e saída da instituição de alguns nichos de mercado.

“O projeto do governo é enfraquecer a Caixa e ir reduzindo seu papel no sistema financeiro nacional, de forma a abrir espaço para os bancos privados. E, uma vez enfraquecida, partir para um processo de privatização”, diz Emanoel Souza, presidente da Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe (Feebbase).

De acordo com ele, por meio de planos de demissão e aposentadoria voluntárias, mais de 10 mil empregados já deixaram a Caixa no último ano, sem que as vagas deixadas por eles fossem preenchidas.

A redução no quadro funcional, além de inviabilizar o bom funcionamento de algumas agências, tem criado uma sobrecarga de trabalho para aqueles que ficam. “E obviamente há uma redução no padrão de atendimento à clientela, o que acaba afetando a imagem da Caixa perante a população”, afirma Souza. Segundo ele, há ainda um plano de fechamento de 342 agências pelo Brasil.

Além disso, algumas áreas da instituição já começaram a ser entregues à iniciativa privada. Hoje, o setor de seguros – Caixa Seguros – já tem como sócia majoritária a francesa CNP Assurance. E a atual gestão já anunciou a intenção de vender a Lotex, braço de loteria instantânea da Caixa – as conhecidas raspadinhas.

A Caixa também suspendeu novas contratações de crédito imobiliário com recursos do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), a linha Pró-Cotista, que era a linha mais barata depois do Minha Casa, Minha Vida.

“Do tamanho que a Caixa é hoje, não há como privatizá-la, chegar agora e colocar a Caixa à venda no mercado, porque ninguém tem dinheiro para comprar. O que eles vão fazer é abrir espaços, tirar a Caixa de alguns nichos de mercado – do filé -, para que esses espaços sejam ocupados pelos bancos privados”, aponta o presidente da Feebbase.

Ele compara a gestão atual com aquela da época dos governos do PT. “Se você enfraquece o banco, ele começa a não disputar mercado. Vai começar a dar prejuízo e aí é o velho discurso neoliberal: o que é estatal dá prejuízo. Mas a Caixa, durante os governos Lula e Dilma, ampliou sua rede, aumentou número de funcionários, aplicou as políticas sociais e deu lucro”, defende.

Souza destaca a decisão da ex-presidenta Dilma Rousseff, que no primeiro mandato decidiu utilizar os bancos públicos para diminuir o spread das instituições financeiras. “O Banco do Brasil disse que não podia reduzir por que tem acionistas privados minoritários. Mas a Caixa foi lá e fez e o Banco do Brasil teve que ir atrás, para não perder concorrência. Logo os bancos privados também tiveram que reduzir o spread, ou perderiam clientes. E o crédito ficou mais barato, com efeitos positivos sobre a economia”, recorda.

Ele sublinha que a importância da Caixa e dos demais bancos públicos. “Eles são fundamentais para que o Estado brasileiro possa ter algum nível de influência no mercado financeiro nacional. O enfraquecimento dessas instituições e consequente privatização libera para o vale-tudo dos bancos privados no mercado”, critica.

Emanoel Souza lembra ainda que houve movimentações do governo no sentido de abrir o capital da Caixa, resgatando um projeto antigo, algo que foi barrado com uma forte articulação.

“Nossa reação tem sido intensa. Criamos a Frente em Defesa das Estatais; tivemos este mês o lançamento da Frente Parlamentar em defesa dos Bancos Públicos e há mais de um ano temos a campanha ‘Se é público, é para todos’, com o intuito de ressaltar que Caixa é um banco público, 100% estatal, que precisa se manter com força e competitividade no mercado e ser uma ferramenta para viabilização das políticas sociais do Estado”, diz.

O sindicalista explica que o papel da Frente Parlamentar em Defesa dos Bancos Públicos é colocar em discussão a importância de manter os bancos públicos com capacidade de influência no sistema financeiro nacional. “Sem os bancos públicos não é possível um projeto de nação”, defende.

“O principal é que o conjunto dos bancos públicos permite fazer o crédito dirigido – seja para a habitação, para a agricultura familiar ou para políticas industriais – ou seja, é a ferramenta que o Estado tem para intervir na economia. Se a ideia é fornecer crédito para a indústria de placas solares com juros menores, o Bradesco vai querer fazer? Não. Mas quando a Caixa começa a fazer, o Bradesco vai ter que fazer também, é a concorrência. Então é um instrumento importante”, exemplifica.