Antônio Nóbrega – mantendo alta a bandeira da identidade nacional

Como herdeiro e continuador de Ariano Suassuna, Antônio Nóbrega, unindo o popular e o erudito, mantém alta a bandeira da cultura brasileira

Por José Carlos Ruy

Antônio Nobrega e Ariano Suassuna - Chico Porto/JC Imagem

A vida tomou novo rumo para Antônio Nóbrega quando, em 1971, Ariano Suassuna assistiu a um espetáculo onde tocava Bach, e o convidou para fazer parte do Quinteto Armorial.

Artista popular, músico, cantor, compositor, pesquisador etc., etc., Nóbrega começou então a unir sua formação de músico erudito com a música do povo, como ele próprio ressalta ao lembrar a importância daquele encontro.

O convite de Ariano para me integrar ao Quinteto Armorial, contou, levou-o a “uma viagem de aprendizado dos cantos, danças e modos de representar presentes em manifestações populares como o reisado, o maracatu, o caboclinho e sobretudo o frevo”.

Surgiu então aquele que é, hoje, o autêntico herdeiro e continuador de Ariano Suassuna – continuidade e presença materializadas não só na obra musical maravilhosa e multifacética de Nóbrega mas também na escola que criou na Vila Madalena (SP), o Instituto Brincante – onde Ariano ministrou várias vezes suas aulas-espetáculo.

A arte de Nóbrega é surpreendente. Junta dança, música, cenografia, figurino etc. Na música, une a alegria e a arte dos sentimentos populares à comemoração de eventos nacionais e à ressonância daquilo que está na cabeça de todos. Como é exemplo marcante a canção Chegança:

Sou Pataxó / sou Xavante e Cariri / Ianonami, sou Tupi / Guarani, sou Carajá / Sou Pancaruru / Carijó, Tupinajé / Potiguar, sou Caeté / Ful-ni-o, Tupinambá

que assistam na praia ao desembarque dos portugueses, e cantavam proféticos:

Aí senti no coração /
O Brasil vai começar.

Chegança fez parte de um espetáculo e disco de 1998 cujo título ressoa aquilo que está no dia a dia dos pernambucanos – o mote da Rádio Jornal, do Recife:

“Pernambuco falando para o mundo”

É um casamento da cultura do povo com o conhecimento teórico que, reconhece Nòbrega, o levou “à constatação de que vivemos num país que reluta em aceitar-se integralmente” e desperdiça “insumos culturais tão vastos e tão imensa riqueza simbólica como o nosso reservatório de ritmos”, que está “armazenado no nosso imaginário corporal popular”, e o empurra “para o gueto da chamada cultura folclórica, regional ou popular, falsamente antagonizante daquela que se convencionou denominar de cultura erudita”.

É a mesma luta, em que Ariano Suassuna foi campeão, para fecundar a expressão erudita com a cultura de origem popular. Fusão que ajuda ao Brasil a “entender-se melhor consigo mesmo e com o mundo em que vivemos”.

É a mesma batalha pela afirmação da identidade nacional, do encontro do Brasil consigo próprio, cuja bandeira Ariano Suassuna sempre manteve de pé. E, agora, Antônio Nóbrega não deixa cair mas a mantém elevada.