Equador, entre a memória e o porvir

As pesquisas eleitorais no Equador revelavam que a maioria do eleitorado considerava que o país estava submerso em uma profunda crise econômica. Evidenciavam também o desgaste de Rafael Correa e do projeto da Aliança País depois de uma década de governo. Lenín Moreno chegava a ser visto com um líder, mas a demanda de mudança era generalizada…

Por Alejandro Fierro*

Lenín Moreno e Rafael Correa - Divulgação

Definitivamente as pesquisas desenharam um cenário propício para a troca presidencial, acionando o automatismo que faz os processos eleitorais penderem para as alternativas de oposição, com independência natural, quando percebem que a economia vai mal. E este automatismo é mais comum com governos que passam bastante tempo no poder, como é o caso do Equador.

E no entanto, o povo equatoriano quebrou esta tendência e voltou a depositar sua confiança em um processo que nasceu no calor dos novos ventos de emancipação latino-americanos. Quais são os motivos que fizeram os equatorianos revalidar a Aliança País apesar das dificuldades? De forma muito breve, se poderia deduzir que foi uma equilibrada combinação entre o passado e o futuro.

No que se refere ao passado, o Equador demonstrou que tem memória. De um lado, uma memória de longo alcance que tem bem presente os efeitos devastadores do neoliberalismo nas décadas passadas, com seu legado de pobreza, desigualdade e um êxodo migratório que ainda é uma ferida lacerante no mais profundo do país. O candidato da direita, Guillermo Lasso, é considerado um dos responsáveis pelo “feriado bancário”, uma reação em cadeia do sistema financeiro que resultou para milhares de pessoas a perda de suas poupanças. O eleitorado deixou claro que não quer voltar àqueles tempos.

Mas também há uma memória do recente, do que significou a década de Rafael Correa a Aliança País em termos de redução da pobreza, investimento social em educação ou saúde e desenvolvimento de infraestruturas. Para além das considerações sobre o caráter mais ou menos de ruptura do processo equatoriano, o certo é que estas conquistas, além de significar uma melhora objetiva nas condições de vida da maioria das pessoas, também vão na direção oposta à agenda neoliberal.

Estas duas memórias, de longa data e do novo cenário, são as que levaram o Equador a encomendar seu futuro, suas expectativas de mudança à mesma formação política que já governa o país desde 2007. E esta é uma péssima notícia para a estratégia da direita, baseada unicamente na mudança para si própria, sem atender outras considerações. Se, apesar das situações adversas, os povos seguem confiando naquelas propostas com as quais recorreram um largo caminho de construção do bem-estar social, pouco ou nada resta para oferecer ao capitalismo.