Rosemberg Cariry: As noivas de Santo Antônio de Barbalha

“Os patrocinadores perceberam as potencialidades da celebração e investiram sem buscar o lucro. Foram patrocínios solidários. Para as pessoas que fizeram a festa, o sentido da realização foi imaterial, simbólico, sagrado. O milagre dessa festa generosa só foi possível pelo trabalho coletivo de mulheres e homens solidários, de uma comunidade unida em torno de um sonho: fazer dos festejos um momento de comunhão coletiva, da beleza e de sagração do amor”.

Por *Rosemberg Cariry

Noivas de Barbalha

Sendo Santo Antônio, além de padroeiro de Barbalha, santo casamenteiro e parte indissociável da sua história e da herança portuguesa, a comunidade de Barbalha resolveu contribuir para ampliar os seus festejos. A Festa do Pau da Bandeira na cidade é uma festa cheia de vitalidade e sempre em transformação. Ao mesmo tempo, tradicional, contemporânea e pós-moderna.

A ideia do evento-cerimônia intitulado “As Noivas de Santo Antônio de Barbalha” surgiu como projeto coletivo da comunidade de Barbalha, por sugestão da dra. Maria Juraci Maia Cavalcante e minha. A inspiração veio da iniciativa exitosa da Câmara Municipal de Lisboa e da Igreja Católica portuguesa, que realiza seleção de casais socialmente carenciados que desejam realizar seus casamentos, como parte dos festejos do Santo Padroeiro daquela cidade, no mês de junho. O cortejo das noivas em direção à Igreja da Sé e após a cerimônia religiosa pelas ruas de Lisboa antiga atrai todos os anos milhares de pessoas da cidade e turistas de várias origens, sendo visto como espetáculo de encantadora beleza.

Barbalha fez também a sua festa, em um momento único de beleza, de alegria e de emoção. As noivas desfilaram em carros antigos pela Rua do Video, foram recepcionadas nas escadarias da Igreja de Santo Antônio pelos noivos, atravessaram túneis formados pelos guerreiros engalanados dos Reisados de Congo, ao som das bandas de pífanos e de bois dançarinos, sob os aplausos das pessoas. O padre celebrou uma missa bonita, pastorinhas, dianas e borboletas (crianças brincantes da lapinha) fizeram as vezes de damas de honra, músicos cantaram a Ave-Maria e, entre as lágrimas furtivas, os casais de enamorados diziam sim à vida e à união. Ao sair da igreja, um helicóptero derramou sob o céu de Barbalha uma chuva de pétalas, enquanto a orquestra tocava o hino de Santo Antônio. Vivam os noivos. Viva a beleza. Viva o amor. Tudo terminou com uma valsa e uma recepção na Escola de Saberes de Barbalha, com grande participação popular.

É quase certo que, no próximo ano, ocorra uma enxurrada de patrocinadores e se contará em dezenas as TVs transmitindo a bela cerimônia. A festa “As Noivas de Santo Antônio” tem tudo para se transformar em uma tradição duradora dentro dos Festejos de Santo Antônio. Os patrocinadores, neste ano, perceberam as potencialidades da celebração e investiram inicialmente sem buscar o lucro. Foram patrocínios solidários. Para as pessoas que fizeram a festa, o sentido da realização foi imaterial, simbólico, sagrado. O milagre dessa festa generosa só foi possível pelo trabalho coletivo de um grupo de mulheres dedicadas e valorosas, de homens solidários, de uma comunidade unida em torno de um sonho: fazer dos festejos um momento de comunhão coletiva, da beleza e de sagração do amor. Sim, Barbalha fez mais bela a Festa de Santo Antônio e está cheia de graça.

*Rosemberg Cariry é cineasta e escritor

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