Esther Dweck: Não é o fim da recessão e quadro vai piorar com reformas

De acordo com e professora de Economia da UFRJ, Esther Dweck, diferente do que diz o governo, o resultado positivo do Produto Interno Bruto do primeiro trimestre não aponta para o fim da recessão. Segundo ela, não há sinal efetivo de retomada de crescimento e o cenário que se delineia é de uma estagnação em um patamar muito baixo, com efeitos negativos para o emprego e a distribuição de renda. A economista prevê ainda que a aprovação das reformas deve agravar tal quadro.

Ester Dweck - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

“Não é o fim da recessão de jeito nenhum. No início dos anos 2000 e em outros períodos da história do Brasil, a gente teve uma coisa que chamamos de estagnação puxada por exportações. É mais ou menos o que a gente vai viver esse ano, se de fato se configurar um crescimento positivo até o final do ano, que ainda tem chances de não acontecer”, disse, em entrevista ao Vermelho.

O IBGE divulgou nesta quinta (1), que o PIB – soma de todos os bens e serviços produzidos no país – cresceu 1% nos três primeiros meses do ano, na comparação com o trimestre anterior. Mas, em relação ao mesmo período do ano passado, a economia teve retração de 0,4%. E o resultado acumulado dos quatro últimos trimestres, terminados agora em março, registra queda de 2,3%.

Segundo Esther Dweck, o resultado positivo desse começo de 2017 é “pontual”, influenciado pela boa safra agrícola e por uma mudança na metodologia usada na pesquisa mensal de serviços e comércio do IBGE – que terminou por puxar o resultado desses setores para cima. Mas o detalhamento dos dados mostra que, pelo lado da demanda, a única coisa que de fato teve bom desempenho foram as exportações, enquanto a demanda interna continua desapontando.

O investimento caiu 1,6% em relação ao trimestre anterior, o consumo das famílias teve retração de 0,1% e o consumo do governo, de 0,6%. “Com o desemprego crescente, as pessoas ou estão sem renda, ou não querem gastar a renda que têm porque querem se proteger de um eventual problema mais na frente. As empresas não estão investindo nem têm nenhuma perspectiva de investir, porque estão com capacidade ociosa muito grande. Então a única coisa que sobra para quem está produzindo, é exportar, principalmente com uma safra recorde como esta. Houve, na verdade, um crescimento puxado pelas exportações, que não é capaz de puxar a economia brasileira de fato”, disse.

Na avaliação da professora, o crescimento de 1% não pode, portanto, ser associado à ação do governo Michel Temer, que relaciona a retomada atividade à recuperação da confiança na economia, algo que seria influenciado pela capacidade da gestão de aprovar as reformas.
“Foi uma coisa muito pontual, ligada a essa safra recorde, que é uma questão climática, não tem nenhuma relação com aprovação de medida ou qualquer coisa do gênero, porque a safra não sabe se o governo aprovou x ou y no Congresso, então não tem nenhum sinal efetivo de retomada”, analisou.

Na sua avaliação, o mais provável é que o país tenha um crescimento próximo de zero em 2017. “Pode ser um pouquinho positivo ou um pouquinho negativo, o que no fundo é uma estagnação. E isso é normal, porque é muito raro uma economia cair duas vezes seguidas. Três, então, só numa guerra. O mais provável é que Brasil se estabilize, mas num nível muito baixo – o que é muito ruim em termos de geração de emprego e distributivo – e fique crescendo muito próximo de zero. Não tem nenhum sinal de retomada vigorosa”, declarou.

Para a economista, ao contrário do que o governo fala, a aprovação das reformas só vai piorar esse cenário. “Porque, na verdade, [aprovar as reformas] é retirar um canal distributivo importante, que ajuda da distribuição de renda, consequentemente, no crescimento econômico e na própria proteção da economia, para situações de crise como a que a gente vive. Porque muita gente consegue ter algum auxílio e não fica sem nenhum tipo de renda, mesmo com o desemprego crescente. E com as reformas, esse colchão de proteção social vai diminuir”, lamentou.

Esther destacou que a lógica da seguridade social é justamente proteger a população em momentos de dificuldade. “Ela foi criada depois da grande crise mundial da década de 30 e depois da segunda guerra, para dizer que, se a gente não tiver um mínimo de proteção social, as economias entram em colapso. E a economia mundial só não entrou nunca mais em colapso tão profundo como na grande depressão porque passou a ter um sistema de proteção social muito forte”, disse.

Desde que o atual governo assumiu, prometia que a retomada seria liderada pelos investimentos. O resultado do primeiro trimestre contraria o discurso da gestão. E, para Esther, isso não deve mudar.

“Ninguém investe porque o governo aprovou ou não uma medida no Congresso. A pessoa investe se tiver alguém comprando o produto dela. Então, enquanto não retomar mesmo o crescimento, o investimento não vai voltar tão cedo. A gente está com uma capacidade ociosa enorme. Então o que o governo chama de investimento não é investimento, é um capital especulativo financeiro, que pode vir, sim, porque você aprovou uma reforma que protege exatamente o capital especulativo e não o produtivo”, encerrou.