Envolver Exército em crise política é inadmissível, diz especialista

A decisão do presidente Michel Temer de autorizar o emprego das Forças Armadas para conter os protestos em Brasília é um “equívoco tremendo”, avaliou Ronaldo Carmona, pesquisador do departamento de Geografia da USP e especialista em assuntos de Defesa. De acordo com ele, a tentativa do peemedebista de envolver o Exército em uma crise que é “eminentemente política” é “irresponsável”.

forças armadas em brasília

A Constituição determina que as Forças Armadas destinam-se “à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”. Segundo Carmona – que recentemente dirigiu a área de Planejamento Estratégico do Minitério da Defesa – a aplicação do decreto de garantia da lei e da ordem, publicado nesta quarta (24), é equivocada, uma vez que não há nenhuma situação de caos, comoção pública ou segurança nacional que justificasse a medida.

Carmona elogiou a postura das Forças Armadas ao longo de toda a crise política que se alastra desde 2014. Na sua avaliação, elas mantiveram um posicionamento “legalista, constitucionalista e em defesa da normalidade democrática” e não deveriam ser “envolvidas indevidamente” neste momento.

“Qualquer tentativa por parte do governo Temer, sitiado pela crise política e sob rechaço crescente do povo, de envolver indevidamente as Forças Armadas, para tentar usá-la como forma de conter uma crise eminentemente política, não é admissível. A solução para esta crise passa pela reconciliação nacional, não pelas Forças Armadas”, opinou.

“Recentemente, numa entrevista a Veja, o Comandante do Exército apontou suposta tentativa de envolvimento das Forças Armadas na crise política que resultou no impeachment de Dilma, algo que foi absolutamente rechaçado. Não seria admissível que aja envolvimento das Forças nesse conflito político atual, a exemplo da postura adotada anteriormente", reiterou.