Em obstrução, oposição tenta barrar relatório da reforma trabalhista

O governo tenta acelerar a votação da reforma trabalhista no Senado para demonstrar governabilidade diante das revelações trazidas pela conversa com o empresário Joesley Batista, da JBS. A reunião da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado desta terça-feira (23), destinada à leitura do relatório da reforma trabalhista, começou tensa, com a oposição pressionando e tentando barrar a leitura do relatório.

Senado debate reforma trabalhista - Agência Seando

Enquanto o presidente do colegiado, Tasso Jereissati (PSDB-CE), afirma que os trabalhos do Legislativo devem continuar apesar da crise política, a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) destacou que o governo tenta minimizar os fatos como se Temer não tivesse cometido crime.

“O grau de gravidade revelada pela gravação é muito grande. Não é só o que se refere ao Eduardo Cunha, mas existem vários outros elementos que implicam Michel Temer… Essa situação não vai permitir que o Congresso encaminhe as coisas como se nada tivesse acontecido”, disse a senadora.

Vanessa destacou que para o governo, o funcionamento do Congresso é apenas a aprovação das reformas trabalhista e da Previdência. Ela reforçou que a oposição, apesar de minoria, vai utilizar a obstrução da pauta para tentar barrar as reformas.

Durante a sessão, os senadores Gleisi Hoffmann (PT-PR) e Lindbergh Farias (PT-RJ) protestaram contra a realização da reunião e contra a prevista leitura do relatório do senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES).

Lindbergh enfatizou que o relatório não poderia ser lido nesta terça porque Ferraço declarou na semana passada que o calendário da reforma estava suspenso em razão da crise política.

“O relator deu entrevista dizendo que não existia possibilidade de continuar sem suspender  tramitação da reforma trabalhista. Isso aqui é provocação pra gente”, afirmou o senador. “Não aconteceu nada quarta-feira, não aconteceu nada quarta-feira?”, questionou Lindbergh referindo-se à divulgação das delações da JBS.

Irritado, Jereissati disse: “Aqui nesta comissão, não [aconteceu nada]”. E Lindbergh respondeu: “Aconteceu com o presidente da República”.

O tucano voltou a retrucar tentando minimizar as revelações trazidas pela delação da JBS. “Aqui nesta Comissão não. Nosso trabalho continua normalmente, nós não entramos em férias”, afirmou Tasso.

O relator Ricardo Ferraço disse que está pronto para apresentar seu relatório na segunda parte da reunião da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, após o fim da audiência pública sobre o assunto, com a participação de professores de várias universidades.

Como qualquer mudança de mérito no texto faria com que a proposta voltasse a ser apreciada pelos deputados, Ferraço não acatou nenhuma emenda apresentada pelos senadores. O texto apresentado por Ferraço é o mesmo aprovado na Câmara.

Ferraço disse em entrevista à Rádio Senado que vai recomendar o veto presidencial a alguns trechos do texto, com o trabalho de gestante em local insalubre. Outro ponto que vai propor o veto é à jornada intermitente de trabalho, em que são alternados períodos de prestação de serviço e de inatividade, determinados em horas, dias ou meses.

Com a apresentação do relatório será feito um pedido de vista coletiva, que significa um prazo maior para os senadores analisarem a proposta. A votação do relatório na CAE deverá ser na semana que vem.

Ricardo Ferraço, que apostava na votação da reforma até a primeira quinzena de junho, não quis fazer novas previsões sobre quando a reforma deverá ser votada no plenário da Casa.

Ele disse apenas que vai depender das discussões nas comissões de Assuntos Sociais e na de Constituição e Justiça, onde a proposta será relatada por ninguém menos que Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo na Casa.