A ética da luta popular e a exigência: "Fora Temer!"

A crise política brasileira agudiza-se a passos largos. Os recentes desenvolvimentos midiáticos colocaram definitivamente na ordem do dia a necessidade de mudança de rumo. “Não há outra saída: os brasileiros devem se mobilizar, ir para as ruas e reivindicar com força: a renúncia imediata de Michel Temer”, diz Joaquim Barbosa, ex-ministro do STF (1).

Por Alexandre Weffort* 


Manifestação em São Paulo: Fora Temer

"Fora Temer!" foi, e continua sendo, a palavra de ordem contra a situação decorrente do golpe que destituiu Dilma Rousseff. A cada passo, somam-se as vozes que reforçam essa exigência. Partidos de esquerda, movimentos sociais como o MST e o MTST, movimentos políticos supra-partidários (como o Proj. Brasil Nação), aglutinam-se em torno de pautas sociais (como ocorreu com o movimento sindical e a CNBB) que, necessariamente, desembocam na necessidade imperiosa de deposição deste governo.

João Pedro Stedile, analisando o campo político comprometido com a situação, aponta: "Eles não têm comando único. Estão divididos entre o poder econômico ([Henrique] Meireles, JBS, etc); o grupo dos lúmpens do PMDB ([Romero] Jucá, [Eliseu] Padilha, [Michel] Temer, Moreira Franco…), que tem o poder das leis, e começam a ter fissuras, como o caso do Renan Calheiros. E há também o grupo ideológico, composto pela Globo e pelo Poder Judiciário. Há muitas contradições internas entre eles" (2).

No momento em que a Globo publica a matéria sobre as gravações últimas, já homologadas pelo STF, que comprometem Temer e Aécio, a crise atinge o núcleo político do governo. Alguns ministros anunciam a sua retirada e partidos que sustentavam Temer no Congresso anunciam o desembarque. Alguns ministros, colocados no governo pelos partidos que agora saem do navio, mantêm-se, como é o caso de Jungmann (Defesa).

Temer ensaia uma tentativa de resposta. Raul Jungmann assiste a ela na companhia de altas patentes militares e indica: "O principal juízo dos militares sobre a crise parte da constatação de que os atores políticos, legitimados pelo voto para apontar e construir os caminhos da solução, abdicaram do papel que o grave momento nacional lhes reserva e reduziram as enormes dificuldades que se abatem sobre nós a mera luta pelo poder, na sua expressão mais primária. E ao esforço de preservação de biografias que a cada dia se mostram mais indefensáveis" (3).

A última frase citada podia ser diretamente aplicada a Temer e à maioria de direita do Congresso. A mídia procura colar os militares ao governo, anunciando previamente a sua solidariedade em encontro que, afinal, se viu adiado (4).

A crise brasileira agudiza-se. E, enquanto a prática política dominante se transforma em "pau-de-galinheiro", a luta avança para as ruas, onde se pode afirmar uma alternativa popular. Assim diz Stedile: "Mobilizar, lutar, não sair das ruas (…) os próximos dias serão de batalhas decisivas para definir os rumos dos próximos anos. E a força da classe trabalhadora só se expressa nas mobilizações" (2). Tendo, como suporte, a ação organizada da sua consciência de classe.

*Alexandre Weffort é professor, mestre em Ciência das Religiões e doutorando em Comunicação e Cultura

(1) http://exame.abril.com.br/brasil/brasileiros-devem-ir-as-ruas-pedir-renuncia-de-temer-diz-barbosa/
(2) http://www.m.vermelho.org.br/noticia/297086-1
(3) http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2017/05/temer-se-reune-com-ministro-da-defesa-e-comandantes-militares-que-cogitam-intervencao
(4) http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2017/05/19/interna_politica,870234/temer-adia-reuniao-com-militares-e-estuda-fazer-novo-pronunciamento.shtml