“Temer não tem condições morais para conduzir reformas”, diz consultor

Na opinião do consultor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Marcos Verlaine, o presidente ilegítimo Michel Temer não tem mais condições morais de conduzir as reformas trabalhista e previdenciária no Congresso Nacional. Nesta quarta-feira (17), matéria do jornal O Globo afirmou que Temer tentou comprar o silêncio de Eduardo Cunha. De acordo com o jornal, o diálogo com o dono do frigorífico JBS, Joesley Batista, foi gravado. 

Por Railídia Carvalho    

Paulista contra a reforma e Temer - Lula Marques/Ricardo Stuckert
Segundo O Globo, a revelação foi feita ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, mas também era de conhecimento da Procuradoria-Geral da República (PGR).

Além de Temer, a denúncia de O Globo revelou que o senador tucano Aécio Neves teria pedido R$ 2 milhões a Joesley. Nesta quinta-feira, o ministro Fachin determinou o afastamento do parlamentar do PSDB do cargo no Senado. Também foi decretada a prisão de um primo e da irmã de Aécio, Andrea Neves.
 

“Por mais que a imprensa tente dourar a pílula a tramitação das reformas está comprometida. O presidente liderava diretamente esse processo. Por exemplo, essa semana ele fez reunião com os membros das comissões de mérito da reforma (Assuntos Econômicos e Assuntos Sociais). Da forma como está implicado nas denúncias não tem condições morais de se manter à frente”, afirmou Verlaine. 
As duas comissões avaliarão o Projeto de Lei da Câmara 38/2017 sobre a reforma trabalhista, que tramita agora no Senado Federal.

De acordo com Verlaine, a divulgação do envolvimento de Temer em esquema para evitar delação de Eduardo Cunha à Operação Lava Jato também deve agravar a dificuldade que o governo enfrenta para aprovar a reforma da Previdência em primeiro turno no plenário da Câmara dos Deputados. 

Aprovada na Comissão Especial, a reforma da Previdência aguarda para ir a plenário. O governo precisa aprovar em dois turnos na Casa com o mínimo de 308 votos em cada votação. 
Debandada governista?
“A debandada de ontem da base do governo no plenário da Câmara e do Senado são indícios de que o governo perdeu a condição de tocar esse processo no Congresso. Ainda que a grande imprensa tente dar ar de normalidade é impossível. Ele pode até tentar mas não tem condições morais e políticas de liderar isso”, reafirmou Verlaine.
 
Partidos da base aliada de Temer, como o PPS e DEM, defenderam ainda na noite desta quarta-feira a renúncia de Temer. Segundo Verlaine, a rapidez se deve ao fato de que a denúncia é contundente e tem respaldo legal do STF. 
“Os parlamentares, sejam aliados ou não, precisam se posicionar por uma questão de sobrevivência política. Quem tiver juízo vai ter essa posição pela renúncia. É uma questão de tempo para o Temer cair. Se não cair vai ficar como um espantalho sendo massacrado 24 horas por dia”, comparou o consultor do Diap. 
Mercado desapontado
O mercado é o principal desapontado com a possibilidade de paralisação das reformas da Previdência e trabalhista no Congresso, diz Verlaine. “O mercado, o capital e o patronato brasileiro ficaram desapontados com essa bomba que foi jogada no colo dos principais condutores das reformas no Congresso.”

“Nem deveria ter esse nome de reforma trabalhista e sim de reforma de interesse do capital, que tira direitos e dá salvaguarda total para o capital fazer o que quiser nas relações de trabalho”, enfatizou Verlaine.

Centrais 

Na opinião de Verlaine, a denúncia contra Temer dá mais vigor para a pauta que está nas ruas contra as reformas e  contra o governo ilegítimo. 
 
“O quadro demonstra que o movimento sindical e social precisam radicalizar e cobrar eleições diretas e agora mais ainda. Mostrar que as reformas são resultado de um processo ilegítimo que redundou em uma mudança no Estado brasileiro.”
O presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo, afirmou nesta quinta-feira (18) que a marcha do dia 24 ganha dimensão maior após a denúncia contra Temer.

A CTB, a Nova Central, Intersindical e CSP-Conlutas se reuniram pela manhã para avaliar o novo cenário político. 

“A luta em defesa dos direitos seguirá firme, mas agora somos convocados a ser protagonistas dos rumos da história do nosso país", ressaltou Adilson Araújo.