A situação da Venezuela no xadrez do imperialismo

A Venezuela está mergulhada em uma grave crise política. Isso todos nós acompanhamos pelos noticiários e pelas redes sociais. Obviamente, a grande mídia hegemônica, uma fiel aliada dos interesses imperialistas, constrói sua versão da história, o que ao mesmo tempo, serve para legitimar junto ao senso comum de boa parte do mundo ocidental, as ações de desestabilização dos EUA e da Otan.

Por Thiago Cassis*

Manifestação violenta na Venezuela - EPA

Mas qual a real situação e o papel que o imperialismo tem jogado na situação venezuelana?
Em recente matéria veiculada pela multiestatal Telesur, o jornalista alemão André Scheer, do periódico Junge Welt, aponta que os acontecimentos recentes na Venezuela são “muito semelhantes à operação levada a cabo na Ucrânia, em 2014, que levou à tomada do poder por setores da extrema-direita”. De acordo com Scheer “na Venezuela também havia manifestações pacíficas da oposição, com reivindicações concretas, mas a cada dia estão a ser substituídas por focos de violência, cortes de estradas e assassinatos seletivos”.

Vale reforçar que a ofensiva de cunho criminoso, por parte da oposição, que incendeia, saqueia e mata, é apoiada por governos conservadores do continente, e protegida pela polícia das 19 prefeituras de oposição, dentre as 335 que existem na Venezuela.

A receita não é nova, o imperialismo, representado pelos EUA, já se utilizou dos mesmos mecanismos em outras ocasiões, como na Líbia de Kadafi, por exemplo. Trata-se de organizar a oposição com financiamento e armamento, prover vasta cobertura nos veículos de comunicação hegemônicos, que historicamente foram criados ou sobrevivem às custas do próprio Império e recrutar mercenários para fazer o “trabalho sujo” nas ruas. Isso sem falar na escassez planejada de produtos que atinge diretamente a população.

Para o jornalista da TV Record e blogueiro, Rodrigo Vianna, “os governos chavistas não foram capazes de mudar a matriz econômica da Venezuela e nem de livrar o país da excessiva dependência do petróleo, continua sendo um país que não tem indústria, apesar de ter um mercado consumidor razoável, o chavismo não teve possibilidades de enfrentar esse dilema. No momento que os preços do petróleo desabaram o modelo político também entrou em cheque”. Ainda para o jornalista, tanto o Brasil, quanto a Venezuela, “são modelos de país que mudaram a forma de distribuir riqueza, uns mais outros menos, mas não mudaram a forma de produzir, mas isso não quer dizer que você não tenha também uma oposição golpista e, mais do que isso, que existe um movimento dos EUA para recolonizar a América do Sul”.

“O Brasil, passa a jogar um papel central na tentativa de derrubar o presidente Maduro”, continua Vianna, “então, existe um cerco à Venezuela, de um lado da fronteira, na Colômbia, temos bases estado-unidenses e, do lado brasileiro, um governo que é subserviente aos interesses dos EUA. Rússia e China, principalmente os chineses, tentam deslocar a economia pro eixo do Pacífico, e agora contando com a rota da seda, para os EUA é impensável ter na América do Sul, que eles consideram “quintal” deles, dissonâncias na tentativa de enfrentar os russos e os chineses”.

O diretor de relações internacionais do PCdoB, José Reinaldo Carvalho, aponta que “as situações da Venezuela, Líbia, Ucrânia e mesmo o Brasil, têm suas peculiaridades. Nenhuma delas é igual à outra. O que há de comum é que todas são situações de golpe, tentativa de golpe ou intervenção armada, fruto da aplicação da estratégia de desestabilização da vida política, econômica e social de um país, protagonizada por setores reacionários internos subordinados ao imperialismo estadunidense e a potências da União Europeia”.

Sobre a resistência às manobras imperialistas na Venezuela, Rodrigo Vianna, coloca que a capacidade de resistir venezuelana “é surpreendente. No Brasil e no Paraguai, bastou botar a classe média nas ruas e usar o aparato institucional, já na Venezuela o chavismo não mudou a forma de produzir, mas mudou a estrutura política do judiciário e das Forças Armadas, então não tem espaço para eles operarem uma mudança como eles fizeram no Paraguai e no Brasil. Então na Venezuela é o quadro se aprofundar e talvez se tornar um quadro de guerra civil”.

Para tentar acalmar os ânimos opositores, o presidente da Venezuela, Maduro, apresentou a proposta de uma Assembleia Constituinte. Porém a extrema direita, financiada pelo imperialismo, não tem intenção de dialogar. “A perspectiva da situação venezuelana é o aprofundamento da luta entre dois caminhos opostos: o da consolidação da Revolução Bolivariana, que representa transformações econômicas e sociais, a defesa da soberania nacional e da integração entre povos livres, sob a liderança do governo do presidente Nicolás Maduro, por um lado, ou o da violência, do golpe, do caos e da traição da pátria, sob a liderança das forças de direita e pró-imperialistas”, finaliza o dirigente comunista.