Araújo: Com emprego e dinheiro no bolso, povo se vira com a inflação

 Os economistas de mercado difundiram a ideia de que a inflação castiga mais os pobres do que os abastados. É lenda. A inflação castiga os rentistas, aqueles que têm capital em moeda e vivem de renda de juros. A inflação também diminui o poder de compra dos altos salários do Estado porque esses são reajustados uma vez por ano e seu valor real decresce durante o ano. A inflação tende a prejudicar os credores e aliviar os devedores.

Por André Araújo

Inflação desacelera

O pobre sabe se defender da inflação com muito mais esperteza e criatividade do que qualquer outra classe. Os economistas de mercado operam no MUNDO DOS RENTISTAS, de onde eles tiram sua sobrevivência, os rentistas são os clientes dos fundos de investimentos, gestoras de fortunas, corretoras e bancos que empregam os economistas de mercado.

Uma das narrativas sobre a inflação e os pobres diz que eles recebem o salário e ficam com o dinheiro no bolso desvalorizando. É FALSO. Nos anos de inflação 1950-1994 os trabalhadores recebiam o salário no dia 5 e IMEDIATAMENTE faziam a compra do mês, pagavam seus alugueis e prestações, investiam o que sobrava em bens duráveis como material de construção, fogão, automóvel, ferramentas. Não ficavam com dinheiro no bolso, não havia o “pobre com o dinheiro do salário no bolso”, fruto do desconhecimento do mundo real que esses economistas ostentam até hoje, eles conhecem economia teórica e não da vida.

Acompanhei a vida de centenas de operários de minha empresa nos anos de inflação, a maioria nordestinos ou do interior de São Paulo, seguiam um roteiro, compravam um lote de terreno a prestação, depois iam comprando mês a mês material de construção, iam construindo sua casa, demorava mas com esforço terminavam, depois casavam, a em seguida a compra do primeiro fusquinha usado, depois ampliação da casa com puxadinho.

Assim foram formados 650 bairros em São Paulo fora dos bairros tradicionais anteriores à industrialização, os novos bairros multiplicaram por 10 a população de S.Paulo.

Alguns, não todos, compraram a prestação apartamento na Praia Grande. Na segunda geração esses mesmos operários investiam em cursinhos para os filhos na era dos vertibulares difíceis, outros se aposentavam e abriam pequenas oficinas de consertos em sociedade com colegas ou parentes, se viravam com grande engenhosidade, tudo isso em tempos de inflação.

Havia inflação sim MAS havia ao mesmo tempo pleno emprego, os formados em engenharia já saíam da faculdade empregados porque havia crescimento na grande maioria dos anos nesse quase meio século, havia INFLAÇÃO e ao mesmo tempo um clima de otimismo na economia, novas fábricas surgiam do dia para noite, havia abundância de oportunidades.

Com a inflação era impossível viver de juros, quem tinha dinheiro corria para aplicar em ativos reais que conservavam o valor do capital, especialmente imóveis e estoques de tudo, negócios, fábricas, sítios, fazendas e com isso a economia crescia em velocidade.

A inflação não é um remédio desejado mas pode ser necessário, especialmente para SAIR DA RECESSÃO, não se sai de uma recessão sem ESTÍMULO MONETÁRIO, o que significa dinheiro nas veias da economia através de crédito baratos às empresas e investimentos públicos em infra estrutura que tem efeito multiplicador na estapa seguinte da produção de cimento, aço, tubos, fios e cabos, trilhos, asfalto, cerâmica, brita, todos setores que empregam muita mão de obra. A renda gerada pelos investimentos em infra estrutura se multiplica rapidamente para compra de bens duráveis, o que movimenta a economia.

MAS o maior dano causado à economia pelo regime de METAS DE INFLAÇÃO é a politica cambial. Foi essa politica que já vinha do segundo mandato do governo Lula que causou a recessão e não o déficit orçamentário. Deficit causa inflação e não recessão, o que causa a recessão é a VALORIZAÇÃO DO REAL que prejudica e pode acabar com a indústria e essa politica cambial é usada para se atingir a meta de inflação. Valoriza-se ARTIFICALMENTE O REAL para com isso baixar o preço das matérias primas importadas e e a partir dessa manobra segurar a inflação através da importação de bens de consumo, matérias primas e máquinas.

Ao mesmo tempo essa politica estimula as importações e dificulta as exportação, estimula o gasto de brasileiros no exterior e desistimula o turismo de estrangeiros no Brasil.

É uma POLITICA PRÓ RECESSÃO, suicida para se aplicar quando o caminho é o contrário, é estimular a exportação, encarecer a importação, induzir os que tem dinheiro a investir em negócios e imóveis e não em papeis do governo.

A super valorização da MOEDA causou a crise do fim do governo Fernando Henrique, a ruina da Argentina no governo Menem, é a causa da maioria das recessões na história econômica.

É um monumental erro de análise, difundido pelos economistas de mercado, dizer que a atual recessão é causada pelo déficit público. Este é um sinal ruim e deve ser combatido, especialmente porque ele é um déficit causado por despesas correntes de péssima eficiência como salários altos de servidores cujo valor econômico do trabalho é muito menor do que aquilo que ganham, prédios luxuosos para órgãos do governo que poderiam funcionar em áreas de aluguel bem mais barato, imensas ineficiências em hospitais, universidades e ambulatórios, descompasso entre compra de equipamentos e as instalações para abrigá-los, obras públicas paradas por meses ou anos por questões burocráticas, um DÉFICIT RUINOSO, causado por má aplicação de recursos públicos.

Mas com tudo isso não é o déficit a causa da recessão e sim a POLITICA CAMBIAL que induz a política monetária baseada no desalinhamento dos juros reais internos com os juros internacionais. Hoje a taxa SELIC de 11,25% menos a inflação de 4,2% significa um JURO REAL de 7% ao ano, quando a média internacional de juros básicos é de 1,5 a 1,75% ao ano.

Esse desalinhamento gera um custo ARTIFICIAL da dívida publica que é QUATRO vezes maior que o déficit primário, cujo ajuste é a base de toda a atual politica econômica.

O paciente está morrendo de câncer e toda a equipe médica está voltada para tratar do resfriado desse paciente, essa é a lógica da atual politica econômica brasileira.

E os economistas de mercado e seus arautos na mídia dizem que “a politica está no caminho certo e o dados indicam uma melhora” para frente, é um desejo que transformam numa fantasia, numa realidade artificial, fake news, nada, nenhum dado indica que se caminha para o fim da recessão, tampouco adianta um fim em cinco ou dez anos, apenas porque não há mais como cair, a recessão se esgota mas depois de enorme sofrimento e destruição de riqueza, por causas naturais e não por uma politica inteligente anti-recessiva.

Se a única saída de uma recessão for a natureza, de que servem as escolas de economia?

A previsão dos economistas de mercado é de um crescimento de 0,46% este ano, a fração é ridícula nem um reles prognostico, e de 2% no ano que vem. Considerando que as projeções são sobre uma base de PIB degradada em 8% nos últimos três anos, as projeções são UMA CONFISSÃO DO ERRO, está se apenas recuperando mínima parte da perda, o Pais não ganha nada, apenas repõe pequena parte da perda, toda uma série de medidas que indicam um ERRO MONUMENTAL DA POLÍTICA ECONÔMICA. Quer dizer que no fim de 2018 o Brasil continuará com um PIB ainda 5,5% ABAIXO do PIB de 2012, não há maior confissão de fracasso de um programa econômico, a estabilidade na recessão com miséria crescente.

A referendar o fracasso está a deplorável situação da Grecia hoje, após 9 anos de recessão com uma queda de 25% do PIB, a Grecia entra em DEPRESSÃO, como resultado da MESMA POLITICA HOJE APLICADA NO BRASIL, o que demonstra de forma acabada e inequívoca que NÃO SE SAI DA RECESSÃO COM MEDIDAS DE AJUSTE. O caminho da saída da recessão é o ESTIMULO MONETARIO, é a expansão dos meios de pagamento e não o seu contrário, que é uma politica de juros muito acima da média internacional para com isso ENXURGAR OS MEIOS DE PAGAMENTO e diminuir o poder de compra para fazer a inflação baixar.

O Brasil está seguindo o caminho da Grecia, com a diferença que a Grecia não tem moeda própria e o Brasil tem, não precisa se apertar na camisa de força que foi imposta à Grecia pelo Banco Central Europeu, empobrecendo extraordinariamente sua população e elevando o desemprego a 23%, na realidade é maior porque muitos não procuram mais emprego e não entram na estatística.

O Brasil tem potencialidades, dimensão, recursos muito maiores que a Grecia e tem MOEDA própria, não depende de um Banco Central fora de seu território por isso mesmo é um imenso equivoco seguir uma POLITICA DE AUSTERICIDIO Á LA GREGA, quando ao contrário da Grecia, o Brasil tem reservas internacionais suficientes para garantir o funcionamento da economia, não depende de importar alimentos e em boa parte é auto suficiente em energia, condições que a Grecia não tinha e não tem.

O custo social e econômico da atual politica monetária e cambial é infinitamente MAIOR do que qualquer risco a ser corrido com um programa de estimulo monetário para obras de infra estrutura e crédito de baixo custo as empresas. Mais de 1.500 obras paralisadas no Pais, projetos prontos e não executados por falta de verba, serviços essenciais em saúde e educação cada vez mais precários, QUAL O CUSTO DA RECESSÃO? Quatro por cento de um PIB de US$2 trilhões em 2015, equivale a US$80 bilhões, no ano seguinte de 2016 foram outros 3,8% mais os 4% carregados do ano anterior, US$152 bilhões, só nestes dois anos foram US$232 bilhões de produção perdida, mais o custo social de 14 milhões de desempregados, os custos de uma recessão superam os custos de uma guerra e no entanto o Brasil não precisaria estar em recessão exclusivamente para manter a ficção dessa fantasia

Na realidade todo esse raciocínio acima apontado se refere ao RISCO DE INFLAÇÃO implícito em uma politica de estímulos monetários, MAS em um quadro de profunda recessão um programa de investimentos em infra estrutura de R$2 trilhões há grande possibilidade de não gerar inflação dada a enorme capacidade ociosa e grande desemprego que está hoje na base da economia recessiva. Um programa de R$2 trilhões significa desembolsos espaçados de R$ R$80 bilhões por mês, o que provavelmente não irá gerar impacto nos preços dada a abundância de oferta de produto, serviços e mão de obra na economia brasileira.

Do ponto de vista politico, METAS DE INFLAÇÃO é uma ideologia concentradora de renda, aumenta a participação do capital na economia e facilita a concentração de riqueza e renda na parte da população que tem LIQUIDEZ EM MOEDA, ou seja, os ricos, rentistas e banqueiros.

Já do ponto de vista politico, um programa de expansão monetária DESCONCENTRA RENDA, a irrigação de moeda chega a todas às camadas de população diluindo o poder de quem tem alta liquidez, qual seja, os ricos. A EXPANSÃO MONETARIA é um programa benéfico às populações mais pobres porque se reverte o fluxo do rio monetário que na politica de METAS DE INFLAÇÃO corre só para cima, para quem já é rico, já na expansão monetária o rio corre para baixo, para quem não tem dinheiro ou emprego.

A politica de EXPANSÃO MONETARIA é a única politica possível para o Brasil sair da recessão dadas as condições do Pais, não somos uma Suiça ou uma Suécia para praticar a máxima ortodoxia monetária que é hoje a única base da atual politica econômica brasileira.