Movimentos de moradia afirmam que o povo começa a entender golpe

Há um ano o presidente ilegítimo Michel Temer assumia a Presidência da República após decisão do Senado de aprovar o processo de impeachment contra a presidenta eleita, Dilma Rousseff. Guilherme Boulos e Bartíria Costa, lideranças do movimento de luta pelo direito à moradia, afirmaram ao Portal Vermelho que a população começa a entender que o golpe que consolidou Michel Temer no governo federal tinha como objetivo destruir políticas públicas e retirar direitos.

Por Railídia Carvalho

Bartíria Costa, Conam - Conam

Para Bartíria, que é presidenta da Confederação Nacional das Associações de Moradores (Conam), a diminuição do número de unidades de casas populares e a falta de perspectiva e de prioridade para a faixa 1 do programa Minha Casa, Minha Vida são duas das iniciativas de Temer que fazem retroceder conquistas da luta pela moradia.

Falta de diálogo

Ela também denunciou o esvaziamento das atividades do Conselho Nacional das Cidades, que desde que Temer tomou posse só manteve duas reuniões. Bartíria também não vê perspectivas para a Conferência Nacional das Cidades, programada para acontecer em junho.

“O conselho é um espaço onde a gente constrói o debate das políticas urbanas. Lá foi discutido o plano nacional de habitação, a lei nacional de saneamento, a de mobilidade urbana. Estamos articulando a formação de uma frente para discutir a política urbana e rural e avançar em algumas questões, que estão paradas.”

Rejeição popular ao governo

Bartíria lembrou que a tomada de consciência hoje em relação aos objetivos reais do governo Temer é bem diferente da época do impeachment, que por haver grupos distintos, na ocasião, criou dúvida nas pessoas.

Segundo ela, as votações que aprovaram a reforma trabalhista na Câmara e a reforma da Previdência na comissão especial da Casa começam a ganhar a rejeição da sociedade.

“Isso passa a ser um processo mobilizador contra as reformas. Ainda que não tão grande mas já se percebe nos debates que as entidades têm realizado pelo Brasil com lideranças de diversos estados sobre o ataque aos direitos e à aposentadoria. É um alimento para ampliar as mobilizações”, analisou Bartíria.

Na base da pressão

Em março deste ano, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) montou acampamento durante 22 dias na Avenida Paulista. A iniciativa foi para pressionar a retomada dos investimentos na faixa 1 do Minha Casa, Minha Vida, que atende a população mais pobre com renda até R$ 1.800.

Na queda de braço com o governo Temer a iniciativa saiu vitoriosa e o programa voltou a andar. Segundo Boulos, coordenador do MTST, a luta foi para aplicar o orçamento e cumprir o cronograma do programa.

Ele contou que o movimento apresentou os projetos, que estão sendo analisados pela Caixa Econômica Federal. De acordo com Boulos, a previsão é que a seleção aconteça no mês de junho.

De programa social para via de crédito imobiliário

“Houve uma tentativa de liquidar a faixa 1. Foi quase um ano sem fazer nenhuma contratação. Quiseram transformar numa via de crédito imobiliário e não em programa social. A mobilização na Paulista junto com a mobilização de outros movimentos sociais e de luta por moradia reverteu aquela condição e foi determinada a retomada do processo.”

Na opinião de Boulos, começa a ficar claro que o golpe não foi apenas para colocar um presidente que não foi eleito pelo povo. “Foi acima de tudo um golpe para aplicar um programa que não foi eleito pelo povo e que não teria sido porque é de destruição e regressão social profundas.”

Para Boulos, a direção dos ataques é mais impactante do que a consciência que se verifica no povo brasileiro. No entanto, ele confirma que “de março pra cá com as mobilizações, a resistência social cresce e cresce proporcionalmente à rejeição a esse governo”.