Guadalupe Carniel: O jogo que não terminou

Dia 28 de novembro de 2016. A equipe da Chapecoense voava à Colômbia para disputar a final da Sul-Americana contra o Atletico Nacional, duas equipes que surpreenderam naquele ano. Aquele jogo nunca aconteceu e o Atletico sugeriu que o título fosse dado à Chapecoense.

Por Guadalupe Carniel*

Atletico Nacional comemora título da Recopa

A Recopa não é nem um pouco valorizada aqui no Brasil, o que é uma pena. É disputada pelas equipes que são campeãs dos dois torneios mais importantes do continente, a Libertadores e a Sul Americana da temporada anterior.

E quais eram as equipes? Atletico e Chapecoense. Claro, nenhum dos dois é o mesmo. O primeiro se desmanchou porque jogadores foram vendidos após a Libertadores, coisa mais do que natural no futebol e no caso do segundo por um acidente que vitimou jogadores, dirigentes, jornalistas e a América Latina.

Mas em dia de jogo de Sul-Americana, o destaque era esse jogo. A final que nunca aconteceu no Estádio Atanasio Girardot foi jogada. Na época, me lembro que conversava em mesas de bares com amigos e discutíamos quem venceria e eu carimbava que seria a Chape, nada mais justo, já que o Atletico já havia sido campeão da Libertadores e o ano estava sendo ótimo por isso. Nada dos óbvios gigantes do futebol, mas um time que segundo alguns não teria um título internacional se não fosse o dinheiro de Escobar e o outro um time de uma cidade que foi posta no mapa do futebol meteoricamente.

No primeiro jogo a Chape venceu por 2 a 1 e jogava pelo empate, mas apesar do clima de festa, homenagens e solidariedade jogo é jogo. E o verdolaga não deixou barato: foi capo e fez 4 a 1, sendo um gol com 1 minuto de jogo e já desestabilizando os catarinenses. Mas futebol é mistura de sentimentos e assim como na Arena Condá quando os colombianos marcaram o gol de honra, ao sair o gol da Chapecoense a torcida colombiana aplaudiu de pé e vibrou.

Foi justo o título de campeão do Atletico. Conseguiu seu reconhecimento após toda solidariedade prestada. A torcida aplaudiu e vibrou tanto pelo Atletico, como pela Chape, que não é um rival e sim seu irmão. Aquele com quem você joga pra valer, mas quando termina a partida, acabou ali, já que o sentimento pelo outro é maior e você mesmo assim gosta de enaltecê-lo.

Enquanto isso, muitos por aqui já se esqueceram da tragédia e bradam força chape, mas não fazem nada pra mudar a situação e nem sequer param pra ver o jogo do time. O jogo ontem pra alguns não valia nada, afinal de contas não é um torneio é apenas jogo turno e returno. Mas ali foi o encerramento de um capítulo importante da história do futebol. E por que temos que ter torneios longos pra dar valor a um torneio? Como diria Xico Sá, a vida já é um eterno mata-mata cheio de turnos e returnos, quer mata-mata mais louco do que esse?