Oposição protesta contra “regime de exceção” na Câmara

Parlamentares da Minoria denunciaram, na tribuna e em nota, as cercas de metal e o forte aparato da polícia em torno do Congresso Nacional. De acordo com a líder do PCdoB na Câmara, Alice Portugal (BA), a situação se assemelha ao período da ditadura militar de 1964.

Por Iberê Lopes, do PCdoB na Câmara

Bancada do PCdoB - Foto: Richard Silva/PCdoB na Câmara

Em dia de votação dos destaques ao texto da reforma da Previdência, a população mais uma vez foi impedida de entrar na Câmara dos Deputados e parlamentares da oposição fizeram protesto na Casa.

A líder da Bancada Comunista, Alice Portugal, afirmou que a participação política está sofrendo um forte revés desde o golpe parlamentar que derrubou a presidenta Dilma Rousseff. “Nem na ditadura nós vimos tamanho descalabro. A Constituição diz de maneira cabal que as sessões são públicas para que o povo acompanhe as matérias que são do seu interesse. Nós não vamos permitir que a Câmara funcione sem estar aberta para todos”, destaca Alice Portugal.

Todos os acessos do Congresso Nacional foram cercados por quase 40 viaturas da Polícia Militar do Distrito Federal, além do batalhão de choque e a Polícia Legislativa. O clima lembrava o período da ditadura civil-militar de 1964, alertaram parlamentares de oposição ao governo ilegítimo de Michel Temer.

Com a memória de quem vivenciou o estado de exceção e a luta pela democracia, a deputada Jô Moraes (PCdoB-MG) afirma nunca ter visto o Parlamento sitiado desta forma. “Cheguei aqui assustada com o número de policiais. Um absurdo. Há mais de 30 anos a gente não via tamanho cerceamento da liberdade do povo”, diz.

Na parte da manhã, cerca de 200 agentes penitenciários e policiais civis repetiram os protestos realizados na semana passada. Encontraram portas gradeadas e a repressão comandada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Sem contar com a sensibilidade da base governista, que apreciava a reforma da Previdência na comissão especial, seguiram para frente do Palácio do Planalto. Os servidores foram acompanhados pelas sirenes dos carros pretos do Choque e da Força Nacional de Segurança Pública até o Ministério da Justiça.

Para um dos líderes do movimento, o coordenador de mobilização, Jânio Bosco Gandra, dirigente da Confederação Brasileira do Policiais Civis (Cobrapol), é um absurdo que num processo político normal um setor da sociedade seja impedido de conversar com os deputados numa Casa pública.

Jânio Gandra informa que a categoria não está mobilizada apenas sob a ótica das reivindicações dos policiais, mas que são contra todo o conteúdo das reformas trabalhista e da Previdência. “Nós somos parte da sociedade brasileira e temos familiares que são trabalhadores de outras áreas e estas reformas atingem a toda classe trabalhadora”, avalia o dirigente do movimento dos policiais.

Esta ofensiva dos deputados governistas contra os representantes dos trabalhadores demonstra o descolamento do governo Temer da sociedade. “Eles fazem as bobagens lá dentro e nós somos impedidos de entrar. Agem com truculência. Isto prova o estado de exceção que nós vivemos”, dispara João Paulo Ribeiro, secretário dos Trabalhadores Públicos da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

Veja a íntegra da nota dos partidos que integram a Minoria:

Por medo do povo, que é totalmente contrário ao desmonte que o governo ilegítimo quer impor ao país, o Congresso Nacional agora trabalha totalmente cercado pela polícia, única forma de votar a reforma da Previdência, que nada mais é que o fim do direito à aposentadoria, na comissão especial. Isso é inaceitável, uma verdadeira agressão ao direito de ir e vir e de manifestação do povo brasileiro. Não por acaso, situação semelhante só foi vista durante a vigência do Ato Institucional Número 5 (AI-5), que permitiu aos ditadores militares fechar o Congresso e cassar parlamentares. É uma vergonha para aquela que um dia se intitulou a Casa do Povo se acovardar dessa maneira e assumir uma posição servil diante desse governo ilegítimo, se transformar em mero apêndice do Palácio do Planalto. Mas a Justiça não tarda, e a voz das ruas se fará ouvir nas próximas eleições.